Folha de S. Paulo


Ex-dirigente do partido comunista chinês é acusado de corrupção e abuso de poder

Bo Xilai, o ex-dirigente do Partido Comunista no centro do maior escândalo de corrupção dos últimos anos na China, foi indiciado ontem por corrupção, abuso de poder e recebimento de subornos.

O indiciamento abre caminho para um julgamento dentro de poucas semanas, no qual o governo chinês buscará dar fim a um episódio que expôs corrupção e divisão na alta cúpula do partido.

"Bo tirou proveito de sua posição como servidor público para obter ganhos para terceiros, assim como aceitou subornos em forma de altas somas e propriedade", anunciou a corte de Jinan, capital da província de Shandong (leste).

O tom severo das acusações sugere que Bo poderá ser condenado à pena de morte com suspensão _geralmente transformada em prisão perpétua. É a mesma pena a que foi condenado o ex-ministro das Ferrovias Liu Zhijun, há duas semanas, por corrupção.

Bo não é visto em público há mais de um ano.

Cercado de grande atenção, o julgamento de Bo marcará o desfecho de um escândalo que sacudiu a China e a alta cúpula do PC no ano passado, num momento sensível em que o país se preparava para a transição de poder que ocorre a cada dez anos.

Até cair em desgraça, Bo, 64, era um dos políticos mais populares do país e considerado uma das estrelas em ascensão do PC.

A trajetória dele foi interrompida quando seu ex-braço direito, Wang Lijung, se refugiou no consulado dos EUA de Chengdu, em fevereiro de 2012. Wang apresentou provas do envolvimento da mulher de Bo, Gu Kailai, no assassinato do empresário britânico Neil Heywood, que aparecera morto em um hotel três meses antes. Wang Lijung foi condenado a 15 anos de prisão.

Em agosto do ano passado, Gu foi condenada à morte. A sentença suspensa por dois anos deverá ser convertida em prisão perpétua.

A investigação revelou uma série de irregularidades cometidas por Bo em seus anos de ascensão, nos quais foi prefeito de Dalian, ministro do Comércio e chefe do PC de Chongqing (2007-2012), o município mais populoso da China, com 30 milhões de habitantes.

Bo foi removido do cargo e mais tarde e expulso do partido, no qual integrava o Comitê Central, a cúpula formada por 25 membros.

O julgamento ainda não tem data marcada.

Mas a expectativa é que ocorra dentro de poucas semanas, para não ofuscar a reunião do Comitê Central do PC, em outubro, quando deverá ser delineada a nova política econômica do país, num momento de desaceleração do crescimento.

Segundo o "New York Times", um documento interno do partido dá mais detalhes das evidências que sustentaram o indiciamento de Bo. Ele teria recebido US$ 3,3 milhões em subornos, além de US$1 milhão em desvios de fundos públicos.

Em duas décadas, Bo será o terceiro membro do Comitê Central do PC no banco dos réus. O último foi o ex-secretário do partido em Xangai Chen Liangyu, condenado em 2008 a 18 anos de prisão por corrupção.

Nas redes sociais chinesas, o indiciamento de Bo foi visto pela maioria como um sinal positivo, que demonstra a seriedade da campanha anticorrupção deslanchada pelo governo.
"O julgamento de Bo Xilai é um alerta para os quadros do partido", disse o usuário identificado como @dongmengshan no microblog Weibo (Twitter chinês).

Havia também ceticismo, entre os que consideram o julgamento do ex-dirigente pouco mais que uma gota num oceano de corrupção.
"Quando os responsáveis pela promoção de Bo e os que o ajudaram a subir na carreira assumirão sua responsabilidade?", questionou o usuário @jialide.


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