Folha de S. Paulo


Índia investigará alimentação escolar após morte de crianças; diretora está foragida

O governo da Índia anunciou nesta quinta-feira (18) que vai abrir um inquérito sobre a qualidade da comida oferecida nas escolas em um programa alimentar nacional gratuito.

O anúncio acontece depois de pelo menos 23 crianças morrerem em uma escola em Gandamal, no Estado de Bihar, leste do país, em um dos mais graves surtos de intoxicação em massa dos últimos anos.

O número de vítimas pode ser maior e chegar a 25, embora ainda haja divergências com relação à contagem.

Ao todo, pelo menos 47 estudantes primários adoeceram após consumir uma refeição de arroz com batata ao curry.

"Estamos tentando salvar as crianças que entraram aqui, mas a condição de algumas delas continua crítica", disse o médico Amarkant Jha Amar, superintendente do Hospital de Patna.

O ministro da Educação da Índia, M.M. Pallam Raju, prometeu que "serão tomadas medidas" contra os responsáveis, mas não apontou nomes nem deu detalhes sobre o comitê que investigará a qualidade dos alimentos no programa alimentar da escola.

A escola fornece refeições gratuitas sob o maior programa de alimentação escolar do mundo, envolvendo 120 milhões de crianças.

Na terça-feira, as crianças começaram a passar mal pouco minutos depois de começarem a comer, segundo funcionários da escola.

Os alunos, com idades entre 4 e 12 anos, sofreram surtos de vômitos e convulsões provocadas por cólicas estomacais. Alguns morreram rapidamente, nos braços dos pais, enquanto eram levados ao hospital.

MEDO DA MERENDA

Após o ocorrido, outras escolas no país enfrentaram resistência de alunos, que, segundo informações, se recusam a comer a merenda gratuita do governo.

"Recebemos reclamações de que crianças em outras escolas, em quatro ou cinco distritos, estão se recusando a comer o almoço. Estamos tentando resolver a questão", disse o diretor em Bihar do Plano da Refeição do Almoço.

O programa federal foi iniciado para combater a desnutrição infantil e aumentar a frequência escolar e atende cerca de 120 milhões de crianças em 1,2 milhão de escolas, mas acumula críticas por falta de higiene.

Dezenas de outras crianças ainda estão sendo tratadas por intoxicação alimentar. Uma autoridade local disse que 25 crianças haviam morrido, mas o número não pôde ser confirmado.

FUGA

A diretora da escola onde aconteceu a tragédia está foragida. Segundo a polícia, embora não tenha sido possível concluir qual a causa do envenenamento, o foco da investigação recai sobre o óleo utilizado na preparação da refeição, que teria sido comprado na loja do marido dela.

Médicos que tratam as crianças disseram suspeitar que a comida tenha sido contaminada com inseticida.

A imprensa local disse que o óleo de cozinha pode ter sido armazenado em antigo recipiente de pesticidas.

"No momento em que as crianças foram trazidas, cheiramos este odor fétido de organofosforados", disse o médico Vinod Mishra, membro da equipe médica que tratou muitas das crianças no hospital universitário da capital de Bihar, Patna.

Os compostos organofosforados são usados como pesticidas.

"Parecia que o cheiro saia pelos poros. Foi quando nós preparamos o exame de intoxicação por organofosforado e funcionou", disse ele.


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