Folha de S. Paulo


Onda de protestos continua no Egito, enquanto gabinete é formado

O Egito viverá nesta sexta-feira um novo dia de protestos a favor e contra a queda do presidente Mohamed Mursi, no último dia 3. Integrantes da Irmandade Muçulmana e de grupos liberais convocaram atos em todo o país para depois da oração do meio-dia do dia sagrado para o islamismo.

As manifestações acontecem enquanto o governo interino tenta formar um gabinete que conduzirá o país a novas eleições até o fim do ano. Em entrevista à agência de notícias Reuters, o primeiro-ministro interino Hazem el-Beblawi disse que os ministros deverão ser escolhidos até segunda (15).

Asmaa Waguih/Reuters
Aliados de Mohamed Mursi descansam durante a madrugada desta sexta, pouco antes da retomada dos protestos no Cairo
Aliados de Mohamed Mursi descansam durante a madrugada desta sexta, pouco antes da retomada dos protestos no Cairo

Nesta sexta, os aliados da Irmandade Muçulmana continuam a protestar contra a deposição de Mursi, que pertencia ao grupo. Os islamitas se reúnem desde a madrugada do lado de fora da mesquita de Rabia al Adawiya, no Cairo, onde também velam os mortos nos confrontos da última segunda (8) contra os militares.

Na ocasião, 53 pessoas morreram e mais de 300 ficaram feridas, em uma das ações mais violentas desde a queda do ditador Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011. Os aliados de Mursi fazem gritos de protesto, em um desafio ao governo interino.

Já os liberais, que apoiam o golpe, se reúnem na região da praça Tahrir, palco de protestos desde a revolta que acabou com a ditadura. Alguns grupos, no entanto, se mostraram contrários à forma como foi feita a transição, por um decreto emitido pelo presidente interino, Adly Mansur.

Alguns reclamam que não houve discussão entre os grupos políticos, embora respaldem a convocação do novo gabinete.

PREOCUPAÇÃO

As manifestações provocam a preocupação dos egípcios e da comunidade internacional sobre uma nova onda de violência.

O Ministério das Relações Exteriores da Alemanha pediu a ambas as partes que mantenham a calma e evitem os confrontos. Já os Estados Unidos disseram na quinta se preocupar com as ordens de prisão a membros da Irmandade Muçulmana.

A porta-voz do Departamento de Estado, Jen Psaki, disse que será difícil fazer com que o Egito saia da crise com a postura dúbia do governo interino, que pede a prisão dos líderes islamitas, enquanto abre diálogo para a formação do novo gabinete.

Washington ainda não se manifestou oficialmente sobre as características da manobra que retirou Mursi do poder. Se o país a qualifica como um golpe, será obrigado a retirar a ajuda militar de US$ 1,3 bilhão (R$ 2,9 bilhões) dada ao Egito, um dos principais aliados americanos no Oriente Médio.

Na quarta, Psaki afirmou que o governo de Mursi "não era um regime democrático". Os Estados Unidos também enviaram navios para a região do Mediterrâneo caso seja necessário proteger ou retirar cidadãos americanos.

Em meio à instabilidade política, o governo interino egípcio recebeu US$ 12 bilhões (R$ 26,4 bilhões) de ajuda de países do golfo Pérsico, como Qatar, Arábia Saudita e Kuait. O país passa por uma grave crise financeira, causada pelo aumento de gastos do governo e a queda vertiginosa do turismo.


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