Folha de S. Paulo


Após 18 anos, Bósnia enterra 409 vítimas do massacre de Srebrenica

Cerca de 35 mil pessoas de toda a Bósnia foram nesta quinta-feira à cidade de Potocari para o enterro de 409 vítimas identificadas do massacre de muçulmanos em Srebrenica, em 1995. A ação, feita pelo governo da antiga Iugoslávia, deixou mais de 8.000 mortos.

O massacre de Srebrenica foi cometido quando as tropas servo-bósnias conquistaram o enclave oriental bósnio, então protegido por tropas holandesas a serviço da ONU. O general responsável pela ação, Ratko Mladic, é processado pela acusação de genocídio pelo Tribunal Penal Internacional.

Dado Ruvic/Reuters
Bósnios carregam os 409 caixões das últimas vítimas identificadas do massacre de Srebrenica, na Bósnia, nesta quarta
Bósnios carregam os 409 caixões das últimas vítimas identificadas do massacre de Srebrenica, na Bósnia, nesta quarta

Durante a cerimônia, foram lidos os nomes das 409 vítimas hoje sepultadas, entre elas 44 crianças e um idoso que tinha 76 anos. Os presentes fizeram um minuto de silêncio e foi lido o poema "Srebrenica", do escritor bósnio Abdulah Sidran.

Entre os sepultados hoje há também uma recém-nascida, a vítima mais jovem, que por desejo de sua mãe recebeu o nome de Fátima para que pudesse ser inscrito no mausoléu. A menina descansará perto de seu pai, dois tios e um avô, também vítimas do mesmo massacre.

O cemitério do mausoléu de Potocari abriga agora os restos mortais de 6.066 pessoas, que foram exumadas de várias valas comuns no leste da Bósnia ao longo dos anos e foram identificados através de exames de DNA.

Até agora foram identificadas 7 mil vítimas, segundo Lejla Cengic, representante do Instituto de Pessoas desaparecidas da Bósnia-Herzegovina. Lejla disse hoje que outras 226 pessoas assassinadas em Srebrenica foram enterradas em outras localidades bósnias.

Munira Subasic, presidente da Associação Mães de Srebrenica e mãe de um jovem cujos restos mortais foram sepultados hoje, disse que foram encontrados apenas dois ossos de seu filho, em duas valas comuns afastadas cinco quilômetros uma de outra. "A tragédia afetou todas as mães de Srebrenica", declarou.

"A tristeza e a dor, não existem palavras, é muito difícil. Está fora de qualquer mente humana o que fizeram conosco. É horroroso", declarou à imprensa local Fadila Efendic, mãe de Fejzo, assassinado quando tinha 20 anos.

O Tribunal Internacional para a antiga Iugoslávia (TPII) condenou várias pessoas pelo massacre de Srebrenica. No entanto, Ratko Mladic e Radovan Karadzic, os líderes militar e político servo-bósnios no momento do massacre, ainda são processados no TPII por acusação de genocídio.


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