Para Gehad el-Haddad, porta-voz da Irmandade Muçulmana e hoje uma de suas figuras públicas de maior peso, é necessário ter "audácia" para dizer que o ocorrido no Egito não foi golpe militar. "Do que mais podemos chamar isso?", diz à Folha.
Sobre a crise econômica, uma das maiores críticas ao governo de Mohammed Mursi, Haddad sugere conspiração. "Durante o governo, havia cortes de energia, falta de gasolina. Agora, tudo parece funcionar. Foi orquestrado."
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Folha - O que aconteceu no Egito foi um golpe militar?
Gehad el-Haddad - Do que mais podemos chamar isso? Os militares apontaram seus membros para escrever a nova Constituição e nomearam o novo presidente. Tem de ter muita audácia para dizer que não foi golpe.
Qual a origem da violência?
A centenas de metros da mesquita, há gangues com facas e coquetéis molotov. Pedimos às autoridades que viessem nos proteger, mas não fizeram nada. Pelo visto, nosso sangue é muito barato.
O sr. diz que o povo quer Mursi. Quem são, então, os manifestantes na praça Tahrir?
Não sei. Eles não têm uma causa para defender. Odeiam o fato de que o islamismo venceu as eleições. Têm preconceito contra o islã.
A grande crítica ao governo é que a economia declinou.
É um estado de revolta contra o presidente. Parece haver um botão mágico. Durante o governo, havia cortes de energia, falta de gasolina. Agora, tudo parece funcionar. Foi tudo orquestrado.
E quanto ao PIB fraco?
Mursi herdou um problema de 60 anos de idade. Deveriam ter dado mais tempo a ele, mais poder.
Qual deve ser a participação da religião no Estado?
O islã político é um conjunto de valores. Mas as leis não são escritas por clérigos, e sim pela maioria da população. A democracia é a base da lei islâmica.
Caso Mursi volte ao poder, vocês vão levar a oposição à Justiça?
Sim. Vamos procurar essas pessoas, como [o presidente interino] Adly Mansur e [o líder da oposição] Mohammed ElBaradei.
Onde está Mursi?
Ele está mantido no quartel da Guarda Republicana. Ele não pode sair nem se comunicar.