Folha de S. Paulo


Seis países da Unasul exigem "desculpas públicas" da Europa por veto a avião de Evo

Seis países da Unasul lançaram na noite desta quinta-feira um comunicado exigindo que os países europeus expliquem a decisão de barrar o espaço aéreo ao avião que levava o presidente boliviano, Evo Morales, na terça-feira.

Reunidos em Cochabamba, os presidentes de Bolívia, Venezuela, Equador, Argentina, Uruguai e Suriname assinaram nota na qual cobraram "desculpas públicas" dos países envolvidos por terem feito Evo "virtualmente de refém" nas horas em que esteve impedido de retornar a La Paz.

Para o grupo, o bloco mais à esquerda da Unasul, o episódio é uma "flagrante violação dos tratados internacionais" e um "ato ilícito" por afetar a "a liberdade de trânsito de um chefe de Estado" e a "inviolabilidade" de um mandatário. Além do boliviano, discursaram na reunião Rafael Correa (Equador), Nicolás Maduro (Venezuela), Cristina Kirchner (Argentina), José Mujica (Uruguai) e Dési Bouterse (Suriname).

O signatários pediram aos demais presidentes da Unasul, que não compareceram à reunião de emergência convocada para respaldar Evo, que "acompanhem" a declaração aprovada por eles.

O Brasil, que divulgou nota dizendo que o incidente afetava "toda a América Latina", foi representado pelo assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, e pelo número dois do Itamaraty, Eduardo dos Santos -já que o chanceler Antonio Patriota está na Europa. Foi lida uma mensagem da presidente Dilma Rousseff, na qual ela disse que tratará do tema "em todas as instâncias multilaterais para que situações como essa não se repitam".

Houve, no entanto, divergências de tom que mostravam as divisões na Unasul. Durante a reunião, os enviados de Peru, Colômbia e Chile usaram retórica muito mais suave para se referir ao episódio.

Na nota do grupo dos seis aprovada nesta terça, que não citou textualmente nenhuma legislação internacional, o grupo apoiou ainda a demanda que a Bolívia apresentou na ONU sobre o tema. Por fim, acusou a Europa de dividir os países entre "de primeira e segunda classe".

Mais cedo, o Mercosul também havia divulgado nesta terça nota de "repúdio" e "indignação" à "grave ofensa" à Bolívia.

A Bolívia acusa França, Espanha, Portugal e Itália de não permitirem, inicialmente, o sobrevoo sob a suspeita de que o avião presidencial -que saíra de Moscou rumo a La Paz- transportasse o ex-técnico da CIA Edward Snowden, responsável por revelar um megaesquema de espionagem do governo americano.

Depois de uma escala em Viena e a revista do avião presidencial, os quatro países liberaram seu espaço aéreo. A França chegou a se desculpar. Para o governo boliviano, a atitude dos países feriu as Convenções de Viena, que regem as relações diplomáticas.

O Mercosul também divulgou nesta terça nota de "repúdio" e "indignação" à "grave ofensa" à Bolívia.


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