Folha de S. Paulo


Análise: Correa age para ocupar vácuo deixado por Chávez, mas seu rival é Assange

Na política ou no palco diplomático latino-americano não existe vácuo de poder.

Essa é a máxima que está seguindo à risca o presidente equatoriano, Rafael Correa, ao tentar atrair os holofotes que foram de Hugo Chávez (1954-2013) anos atrás.

Sem as habilidades de showman de Chávez nem o dinheiro do petróleo da Venezuela, Correa empata em grandiloquência e no gosto por causas incômodas para Washington --mesmo que o país sofra revés econômico.
Anteontem, ele mostrou que deseja ser um protagonista na articulação regional. Apenas se soube dos problemas do boliviano Evo Morales no espaço aéreo europeu e Correa conversava com os colegas para convocar reunião da Unasul, divulgando, claro, os passos no Twitter:

"Horas decisivas para a Unasul: ou nos graduamos como colônia ou reivindicamos nossa independência, soberania e dignidade. Todos somos Bolívia!", escreveu.

Na falta de um prócer transnacional como Simón Bolívar (1783-1830), ele tem usado citações de figuras equatorianas, como o presidente Eloy Alfaro (1842-1912).

De Alfaro, na terça: "Se, no lugar de afrontar o perigo, cometesse a vilania de passar ao inimigo, teríamos paz, a paz do colonialismo".

Não é difícil brilhar. O venezuelano, Nicolás Maduro, tem preenchido manchetes com gafes. Dilma Rousseff e Juan Manuel Santos (Colômbia) fariam dormir (e não perder o cabeça) o rei da Espanha se falassem por horas. A argentina Cristina Kirchner só é uma ameaça no Twitter --que ela domina exibindo ironia e ritmo narrativo.

Nem tudo lhe sai redondo, porém. Como se sabe, seu papel de paladino das liberdades choca-se com restrições à imprensa equatoriana. Há sinais de que seu domínio de cena não é completo.

Correa desautorizou documento equatoriano que dava livre trânsito ao americano Edward Snowden. Disse que o papel entregue pela embaixada do Equador em Londres não havia passado por ele.

Se foi assim, como Julian Assange, o hóspede ilustre da embaixada, ousou se aliar a um diplomata para passar por cima de Quito? Em se tratando de holofotes, seu principal rival, no momento, é outro especialista: o fundador do WikiLeaks.


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