Folha de S. Paulo


Delator de espionagem dos EUA pediu asilo à Rússia, diz Chancelaria

O técnico de informática Edward Snowden, que delatou o esquema de monitoramento dos Estados Unidos, pediu asilo diplomático à Rússia, segundo responsáveis pelo consulado russo no aeroporto de Sheremetyevo, em Moscou.

Washington pediu sua extradição para que seja processado por roubo, transferência de propriedade do governo e espionagem, o que pode lhe render até 30 anos de prisão. O delator está na área de trânsito de Sheremetyevo desde o dia 23 e pediu asilo ao Equador.

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A informação foi revelada por Kim Shevchenko, funcionária do consulado russo. Segundo ela e outros integrantes do governo russo, o pedido foi feito no domingo (30) por Sarah Harrison, advogada do site WikiLeaks que acompanha o delator desde a fuga de Hong Kong.

O governo russo ainda não fez comentários oficiais sobre o asilo. Mais cedo, o presidente Vladimir Putin disse que concederia asilo a Snowden se ele parasse de revelar informações sobre o monitoramento de dados de internet e de telefones em todo o mundo, feito pela Agência de Segurança Nacional (NSA, em inglês).

"Se ele quiser sair daqui e alguém o receba, que vá embora por favor. Se ele quiser ficar aqui, deve parar seu trabalho dirigido a prejudicar nossos sócios americanos --por mais estranho que eu esteja pedindo isso. Mas, como [Snowden] não tem a intenção de deixar esse trabalho, ele deverá escolher um país de destino", afirmou.

As declarações foram feitas enquanto Putin participava de evento com representantes de países produtores de gás. Dentre eles, está o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, que se mostrou disposto a avaliar asilo a Snowden caso fosse solicitado. Putin negou saber se Snowden sairá do país no avião venezuelano.

Na mesma hora, mas na Tanzânia, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que Moscou e Washington mantêm contatos para tentar conseguir a extradição de Snowden. Representantes da KGB e do FBI (Birô Federal de Investigações, em inglês) trabalham em conjunto no caso.

DESTINO

O destino de Edward Snowden, no entanto, continua sendo uma incógnita. Apesar de ter pedido asilo ao Equador no dia 22, ele continua na área de trânsito de Sheremetyevo. Inicialmente, o WikiLeaks disse que ele iria a Havana para chegar ao Equador.

O jornal "Los Angeles Times" diz, no entanto, que ele analisa propostas de asilo de outros 15 países, que não foram mencionados pela reportagem. A publicação informa também que a lista foi entregue a diplomatas russos, que o receberam no aeroporto.

Ex-assistente técnico da CIA e funcionário da Booz Allen Hamilton, prestadora de serviços no setor de defesa, Snowden trabalhava para a NSA há quatro anos, como representante da Booz Allen e de outras empresas, como a Dell.

A NSA, cujo material foi divulgado por Snowden, é uma das organizações mais sigilosas do mundo. De acordo com as informações apresentadas pelo delator, a agência monitorou os registros de ligações de milhões de telefones da Verizon, segunda maior companhia telefônica dos EUA.

Também foram verificados dados de usuários de internet de todo o mundo em empresas de internet como Google, Facebook, Microsoft e Apple. O escândalo causou críticas ao presidente Barack Obama, que combateu a espionagem feita pelas agências quando fazia oposição ao republicano George W. Bush.


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