Folha de S. Paulo


Novo líder do Irã defende liberdades individuais a jovens

O presidente eleito do Irã, Hasan Rowhani, defendeu ontem mais liberdades individuais, principalmente para jovens, e reiterou que a política de "moderação" prometida durante a campanha deverá ser aplicada também na política externa.

"Devemos falar com meninos e meninas da mesma maneira com que falamos aos nossos filhos. A dignidade das pessoas deve ser preservada", disse Rowhani, um clérigo xiita conhecido por posições conciliadoras, em discurso transmitido pela TV.

A declaração foi uma crítica ao aumento da repressão moral desde que o atual presidente, o conservador Mahmoud Ahmadinejad, chegou ao poder, em 2005.

Com patrulhas espalhadas pelo país, a polícia da Orientação Islâmica tornou-se cada vez mais impopular por prender moças cuja aparência for considerada imprópria para os padrões legais do Irã.

Há abundantes relatos de abuso policial, inclusive humilhações e agressões verbais por parte das policiais mulheres encarregadas de prender quem estiver vestida com véu supostamente incorreto, com excesso de cores ou usando maquiagem.

"Humilhar as pessoas não é aceitável, mas notificar educadamente é correto", disse Rowhani, num aparente esforço para não alienar setores da sociedade opostos à liberalização dos costumes.

Como parte desse mesmo aceno, ele prometeu incluir conservadores em seu gabinete para formar um governo de unidade nacional.

Mas o alvo principal do discurso de ontem parecia claramente ser a parcela da sociedade contrária à atual política, que mescla repressão interna e retórica abrasiva na diplomacia.

"Nesta eleição, as pessoas disseram: 'queremos mudança'. (...) A melhor linguagem popular é a voz das urnas", afirmou Rowhani, que tomará posse em agosto.

O presidente eleito voltou a mencionar a ideia, martelada ao longo da campanha, de que a adoção de uma nova agenda externa de "moderação" ajudaria a aliviar as sanções ao programa nuclear iraniano, que causam desemprego e inflação.

Mas Rowhani insistiu em que isso não significa "submissão" ou "passividade" diante da pressão ocidental, corroborando a previsão pela qual ele será mais propenso a eventuais concessões, mas não suspenderá o enriquecimento de urânio.

Céticos lembram que decisões sobre o programa nuclear cabem ao líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, adepto da linha dura nas negociações.

Mas analistas enxergam a bênção do regime à eleição de Rowhani como possível sinal de mais disposição para um acordo.


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