Folha de S. Paulo


Protestos em Turquia e Brasil são orquestrados, diz premiê turco

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, repetiu nesta terça-feira que os protestos em seu país e no Brasil têm sido orquestrados por forças que querem evitar o crescimento dos dois países.

Ele destacou, em discurso no Parlamento, que os dois países saldaram suas dívidas com o FMI (Fundo Monetário Internacional) e que há uma conspiração para minar o crescimento econômico de ambos.

No último sábado, ele já havia dito a milhares de simpatizantes em Samsun, cidade na costa do Mar Negro, que o Brasil é alvo das mesmas conspirações que, segundo ele, tentam desestabilizar seu país.

"O mesmo jogo está sendo jogado agora no Brasil. Os símbolos são os mesmos, os cartazes são os mesmos, Twitter e Facebook são os mesmos, a mídia internacional é a mesma. Eles (os manifestantes) são liderados a partir do mesmo centro", disse Erdogan.

"Eles estão se saindo melhor em alcançar no Brasil o que não puderam alcançar na Turquia. É o mesmo jogo, a mesma armadilha, o mesmo objetivo."

Adem Altan/AFP
O primeiro-ministro turco fala a seus correligionários no Parlamento, em Ancara
O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, fala a seus correligionários no Parlamento, em Ancara, nesta terça-feira

Nesta terça-feira, ele acusou, em especial, os meios de comunicação de conspirarem. "Desde o começo, algumas pessoas, interna e externamente, têm tentado classificar os protestos como totalmente inocentes e justos, e acusado a polícia de usar sistematicamente a força", disse Erdogan.

"Alguns meios de comunicação na Turquia são os principais provocadores. A mídia internacional tem participado dessas operações."

Ele se referiu, especificamente, a um repórter turco da BBC que tuitou sobre um fórum realizado por manifestantes, em que os participantes supostamente sugeriram um boicote de seis meses de bens para ajudar a desacelerar a economia.

Sem mencionar seu nome, Erdogan acusou Selin Girit de ser "parte de uma conspiração contra o seu próprio país".

"Seu objetivo é impedir a democracia, prejudicar a economia da Turquia, atacar o turismo", disse o premie.

PRISÕES
Pelo menos 20 pessoas foram presas acusadas de envolvimento em protestos violentos nesta terça-feira.

Segundo a agência estatal Anadolu, a polícia fez uma busca em 30 endereços da capital, Ancara, e prendeu os 20 suspeitos de ligação com "grupos terroristas" e de "atacar a polícia e o meio ambiente" durante as três semanas de protestos.

A ação da polícia turca nos protestos contra Erdogan adiaram para o fim do segundo semestre as negociações para que o país entre na União Europeia. Nesta terça, o bloco e o governo turco se comprometeram a continuar as negociações.

A repressão aos manifestantes, que protestam desde o fim de maio, foi duramente criticada pelo bloco e especialmente pela Alemanha, maior país da UE. A condenação foi feita pela chanceler Angela Merkel, que disse na quarta (19) que estava "chocada" com a atuação da polícia turca.

O governo turco não gostou da interferência e acusou a premiê alemã de querer usar o caso turco para fazer campanha eleitoral. Devido às declarações de ambos os lados, os embaixadores foram chamados para ouvir as reclamações formais dos governos.

Nesta terça, a União Europeia cancelou a reunião que teria com os turcos na quarta-feira e adiou por pelo menos quatro meses a continuidade das negociações. O diálogo, parado há três anos, foi bloqueado pela Alemanha e outros países até que seja divulgado o informe de direitos humanos sobre a Turquia, em outubro.


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