Folha de S. Paulo


Equador diz que avalia pedido de asilo a delator de espionagem dos EUA

O governo do Equador disse nesta segunda-feira que avalia o pedido de asilo diplomático ao técnico de informática americano Edward Snowden, que denunciou os esquemas de monitoramento feito pela Agência de Segurança Nacional (NSA, em inglês) a telefones nos Estados Unidos e dados de internet em todo o mundo.

Em entrevista no Vietnã, o chanceler Ricardo Patiño se negou a divulgar informações sobre o paradeiro do delator, que diz ter ido a Moscou. Mais cedo, a agência de notícias Interfax disse que ele sairia da capital russa para Havana, em Cuba, mas jornalistas que estavam no voo negaram que o delator tenha viajado.

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O ministro afirmou que o governo equatoriano avalia a solicitação de asilo, de acordo com a Constituição do país e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, e que os critérios usados serão os mesmos aplicados ao fundador do WikiLeaks, Julian Assange, que está abrigado há um ano na embaixada equatoriana em Londres.

Patiño ainda criticou os Estados Unidos por perseguir Snowden e acusá-lo de traição. "Ele é perseguido por quem deveria dar explicações ao mundo sobre as denúncias de espionagem, violando os direitos de todos os cidadãos do mundo. Teríamos que perguntar quem traiu quem".

Mais tarde, o presidente do Equador, Rafael Correa, prometeu uma solução que não será influenciada por outros países. "Fiquem seguros de que iremos analisar o caso Snowden responsavelmente e tomar a decisão que acreditamos ser a melhor com total soberania".

No pedido de asilo, revelado por Patiño, Snowden relacionou o caso dele ao de Julian Assange e de Bradley Manning, soldado dos Estados Unidos que forneceu os milhares de documentos do Departamento de Estado e das Forças Armadas americanas.

O delator afirma temer um julgamento similar ao de Manning e considera improvável que receba um julgamento justo nos Estados Unidos. Ele considerou o asilo ao Equador devido à concessão feita pelo país sul-americano a Julian Assange.

PARADEIRO

Ainda não se sabe onde está o delator do monitoramento americano. Mais cedo, a agência de notícias Interfax informou que Snowden sairia de Moscou para Havana, mas ele não embarcou no único voo comercial disponível no dia, da companhia Aeroflot.

Em seguida, a Interfax disse que ele abandonou a Rússia em outro voo, que foi para um destino ignorado, segundo fontes locais. Nenhuma das informações foi confirmada oficialmente pelo governo russo ou cubano. No domingo (23), o WikiLeaks afirmou que ele deveria ir para a capital cubana para continuar a tramitação do asilo.

O delator chegou a Moscou na noite de domingo (23), vindo de Hong Kong, onde estava desde 20 de maio. Ele saiu do território chinês um dia depois de os Estados Unidos pedirem sua extradição para que seja processado por três acusações de espionagem e roubo da propriedade federal, que podem lhe render até 30 anos de prisão.

Embora a imprensa russa e o WikiLeaks tenham informado sobre a presença de Snowden em Moscou, o Kremlin mantém o silêncio. O porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, se recusou a comentar os pedidos do governo americano à Rússia para a extradição do informante.

O secretário de Estado americano, John Kerry, afirmou não saber quais são os planos de viagem do técnico de informática. Ele disse ainda que ficaria "profundamente preocupado" se souber que Pequim e Moscou tinham informações sobre as movimentações do delator.

Ex-assistente técnico da CIA e funcionário da Booz Allen Hamilton, prestadora de serviços no setor de defesa, Snowden trabalhava para a NSA há quatro anos, como representante da Booz Allen e de outras empresas, como a Dell.

A NSA, cujo material foi divulgado por Snowden, é uma das organizações mais sigilosas do mundo. De acordo com as informações apresentadas pelo delator, a agência monitorou os registros de ligações de milhões de telefones da Verizon, segunda maior companhia telefônica dos EUA.

Também foram verificados dados de usuários de internet de todo o mundo em empresas de internet como Google, Facebook, Microsoft e Apple. O escândalo causou críticas ao presidente Barack Obama, que combateu a espionagem feita pelas agências quando fazia oposição ao republicano George W. Bush.


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