Folha de S. Paulo


Governo turco nega controlar redes sociais, mas chama Twitter de "ameaça social"

O governo turco amenizou nesta quarta seu anunciado plano de regular o uso do Twitter e de outras redes sociais.

O ministro dos Transportes do país, Binali Yildirime, assegurou que não pretende controlar esses veículos, mas sim lutar conta o crime cibernético, segundo informações do diário turco "Hürriyet Daily News".

Yildirim disse que é preciso incluir as redes sociais na legislação penal. Ele ressalvou, porém, que não permitirá que isso afete a privacidade das pessoas.

Fethi Belaid/AFP
Recep Tayyip Erdogan (foto), em cerimônia em Túnis; premiê atacou a oposição turca e rede social Twitter, que classificou como
O premiê turco Recep Tayyip Erdogan atacou a oposição do país e a rede social Twitter, que chamou de "ameaça à sociedade"

O primeiro-ministro do país, porém, intensificou os já contumazes ataques ao Twitter. Além de atacar a oposição local, Recep Tayyp Erdogan qualificou a mídia social como uma ferramenta de provocação e uma ameaça à sociedade durante a recente onda de manifestações contra o governo.

"Acreditamos que o principal partido de oposição, que está fazendo chamados de resistência, está provocando os protestos", disse Erdogan na televisão turca, enquanto estimadas 10 mil pessoas pediam, nas ruas, a sua saída do governo.

"Há agora uma ameaça chamada Twitter", afirmou. "Os melhores exemplos de mentiras podem ser encontrados lá. Para mim, a mídia social é a pior ameaça à sociedade".

Dezenas de pessoas já foram detidas acusadas de incitar, na internet, a participação em protestos.

DENÚNCIAS

A rede Solidariedade com Taksim, que coordena os protestos que tomaram a Turquia há três semanas, denunciou ontem várias autoridades nos tribunais locais por considerá-las responsáveis pela violência policial, segundo informou ontem a cadeia CNNTürk.

O movimento cidadão apresentou denúncia na Advocacia de Istambul para levar a juízo o governador da província local, o prefeito, o diretor de Segurança e altos funcionários da empresa de construção Kalyon, que colocou seus funcionários para combater os manifestantes.

A denúncia se baseia em dados divulgados anteontem pela Associação Turca de Médicos (TBB, na sigla em turco), que contabiliza 7.822 feridos nos protestos, 59 deles em estado crítico, além de quatro mortos.

PROTESTOS SILENCIOSOS

A violência continuou durante a madrugada de ontem em vários bairros de Ancara e Eskisehir, onde a polícia empregou gás lacrimogêneo e canhões de água pressurizada para dispersar milhares de manifestantes.

Marko Djurica /Reuters
O ator e coreógrafo Erdem Gündüz, de branco no centro, batizado de o
O ator Erdem Gündüz, de branco e no centro, batizado de o "homem de pé", inicia seu protesto em Istambul, na terça (18)

Em Istambul, não foram registrados incidentes, somando a segunda noite seguida de tranquilidade depois de três semanas tensas. Os protestos, porém, continuaram, mas de forma silenciosa.

Centenas de pessoas se reuniram à noite na emblemática praça Taksim, sob forte vigilância policial, para ficarem paradas durante horas em silêncio olhando para frente, imitando o já célebre "homem de pé", o ator turco Erdem Gündüz, que anteontem inspirou nova modalidade de protesto.

Membros do governo emitiram declarações aprovando a mais recente forma de protesto, silenciosa, que leva manifestantes a ficarem por horas de pé e em silêncio nos arredores do parque Gezi.

Ativistas, porém, denunciaram a prisão de até 68 pessoas que participaram desse protesto.

Ontem, oito pessoas vestindo camisetas que dizem "homem de pé contra o homem de pé" se prostraram por meia hora em frente a um protesto, aparentemente demonstrando apoio ao governo, e depois foram embora de táxi.

Os manifestantes planejaram reuniões em 11 vizinhanças de Istambul na noite de ontem para discutir os próximos passos do movimento.
Enquanto isso, o governo abriu licitação para adquirir cem mil cartuchos de gás lacrimogêneo e 50 blindados policiais, segundo informou ontem o diário turco "Milliyet".

GUERRILHA CURDA

O dirigente militar do ilegal Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK, na sigla em turco), Murat Karayilan, advertiu ontem a Turquia que a guerrilha pode voltar às armas caso o governo não avance no processo de paz. Karayilan, autoridade máxima do PKK depois do líder Abdullah Öcalan, atualmente preso, manifestou receio pela não retirada de soldados turcos das zonas de conflito.

O Curdistão é uma região de cerca de 500 mil quilômetros quadrados que abrange áreas de países como Turquia, Iraque, Síria e Azerbaijão.


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