Folha de S. Paulo


Putin defende desarmamento nuclear, e critica EUA por escudo antimísseis

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, defendeu nesta quarta-feira a continuidade do desarmamento nuclear do país e dos Estados Unidos, desde que aconteça com equilíbrio. Ele, no entanto, criticou iniciativas de outras nações em aumentar seus sistemas militares sofisticados, como escudos antimísseis.

A declaração foi feita pouco antes do discurso do presidente Barack Obama em Berlim, em que o americano defendeu a redução do arsenal nuclear em um terço. Apesar de concordar com a eliminação das ogivas, Putin criticou indiretamente os EUA, que planeja o aumento de sua rede de defesa na Europa.

Em discurso em uma feita da indústria militar, Putin disse que o futuro da defesa nacional está no campo espacial, mas não descartou o poder nuclear. "Não podemos permitir que se altere o equilíbrio do sistema de dissuasão estratégica ou que se reduza a eficácia de nossas forças nucleares".

Ele disse que o país não renunciará às bombas atômicas até ter um armamento sofisticado que cumpra a mesma função, além de defender conservar a paridade nuclear com os EUA ao considerá-lo um elemento de estabilidade internacional.

Putin ainda criticou alguns países que desenvolvem armas de alta precisão, que, por seu potencial ofensivo, podem se comparar ao armamento estratégico. Nos últimos anos, Moscou criticou Washington por querer impor um escudo antimísseis na Europa para aumentar a defesa na região.

DESCRENÇA

Após o discurso de Obama, o vice-primeiro-ministro russo, Dmitri Rogozine, disse que não pode considerar seriamente as propostas do desarmamento. "Como se pode considerar seriamente esta ideia de redução de arsenais nucleares quando os EUA desenvolvem seu potencial de interceptação deste arsenal estratégico?".

O assessor do Kremlin, Yuri Ushakov, disse que Putin conversou sobre o desarmamento nuclear durante reuniões na cúpula do G8, na Irlanda do Norte. Ele disse que a intenção é envolver outros países com armas atômicas na negociação.

"É preciso envolver outros países que possuem armas atômicas no processo de redução de potenciais nucleares. Agora, a situação não é a mesma dos anos 1960 e 70, quando só os EUA e a União Soviética realizavam negociações para o corte de seus arsenais nucleares".

Em abril de 2010, Obama e o então presidente russo, Dmitri Medvedev, assinaram em Praga o novo tratado de desarmamento nuclear Start, destinado a manter a paridade nuclear entre as duas potências antagonistas durante a Guerra Fria.

O documento obriga a reduzir em 30% o número de cargas nucleares, até 1.550 por país, e limita a 800 o de armas estratégicas, como mísseis intercontinentais, submarinos e bombardeiros. No entanto, as negociações estão emperradas por causa da intenção de Washington de criar um escudo antimísseis na Europa Ocidental.


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