Folha de S. Paulo


Em visita, Obama deverá ter que explicar espionagem a Alemanha

A indignação dos alemães com o programa secreto de espionagem telefônica e digital dos EUA promete marcar a visita de Barack Obama e Berlim, na próxima quarta (19). Membros do governo alemão disseram que o presidente norte-americano deveria se explicar assim que chegar à Alemanha.

A visita deveria ser em tom festivo, por comemorar o aniversário da retomada das relações entre os dois países após a Segunda Guerra Mundial, e os 50 anos do discurso de John Kennedy em Berlim. No entanto, as denúncias sobre as atividades da Agência de Segurança Nacional (NSA, em inglês) podem mudar a agenda.

Ex-agente da CIA diz que vai conviver com medo de ser capturado
Opinião: Salvos da "Stasi Unida da América"?
Jornalistas discutem sobre contatos com delator de monitoramento

Dentre os eventos previstos, estava um discurso no Portão de Brandemburgo, mesmo local onde Kennedy disse a frase clássica "Ich bin ein Berliner" ("Sou um berlinense"). Mesmo com a aprovação de 82% dos alemães, o americano deverá enfrentar fortes protestos, o que pode cancelar a declaração.

Segundo o gabinete de Angela Merkel, a chanceler alemã deverá abordar o assunto com Obama durante reunião. Em artigo publicado nesta terça no site da revista "Der Spiegel", a ministra da Justiça, Sabine Leutheusser-Schnarrenberger, disse que a vigilância é "desconcertante e potencialmente perigosa".

"Quanto mais uma sociedade monitora, controla e observa seus cidadãos, menos livre ela é. A suspeita de vigilância é tão alarmante que não pode ser ignorada. Por essa razão, a abertura e esclarecimentos por parte do próprio governo dos EUA são cruciais a esta altura. Todos os fatos devem ser colocados sobre a mesa."

A espionagem governamental sobre os cidadãos é um assunto extremamente delicado na Alemanha, onde muitos cidadãos ainda se lembram da atuação da Stasi, a polícia secreta do regime comunista na extinta Alemanha Oriental.

Na sexta (7), Obama diz que o governo precisa realizar uma "modesta intrusão" na vida dos cidadãos para protegê-los do terrorismo, e garantiu que nenhuma conversa telefônica foi indevidamente escutada. No entanto, a mesma garantia não foi feita para estrangeiros, incluindo os alemães.

ASILO

O responsável pelo vazamento das informações, Edward Snowden, fugiu dos Estados Unidos e disse que buscará asilo em algum outro país. No domingo, ele estava em Hong Kong, mas deixou o hotel em que estava e foi para outro lugar, ainda não descoberto.

Nesta terça, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que a Rússia analisaria um pedido de asilo caso o delator o apresentasse. No entanto, parlamentares aliados do presidente Vladimir Putin dizem que Moscou aceitaria receber o ex-técnico da CIA.

Putin e outras autoridades russas frequentemente acusam os Estados Unidos de hipocrisia, dizendo que Washington tenta impor normas de direitos humanos, liberdade e democracia em outras nações, mas não cumpre com essas obrigações internamente.

Snowden, que forneceu as informações para jornais que revelaram um amplo esquema de monitoramento telefônico e da Internet pelo governo dos EUA, fugiu para Hong Kong e disse que espera receber asilo da Islândia.


Endereço da página:

Links no texto: