Folha de S. Paulo


Prefeito de Teerã atrai liberais e religiosos

Mohamad Qalibaf é prefeito de Teerã, comandante militar, piloto de avião e candidato à Presidência do Irã.

Após construir imagem de líder dinâmico e pragmático, Qalibaf, 51, chega como um dos favoritos na eleição presidencial de 14 de junho.

Ele é um dos seis conservadores aprovados pelo órgão que avalia a lealdade dos candidatos aos ideais da revolução islâmica de 1979. O páreo inclui ainda um reformista e um centrista.

Qalibaf visa tanto o eleitorado fiel ao Estado teocrático quanto a base urbana e liberal, carente de líderes desde que os caciques reformistas foram banidos da política após os protestos contra supostas fraudes na reeleição do atual presidente, Mahmoud Ahmadinejad, em 2009.

Qalibaf tem a seu favor uma gestão amplamente bem avaliada de Teerã, metrópole com cerca de 12 milhões de habitantes.

Ele foi escolhido no cargo pelo Conselho Municipal em 2005, após perder a eleição presidencial daquele ano justamente para o então prefeito e arquirrival Ahmadinejad.

Desde então, proliferam parques bem cuidados, enfeitados com arte moderna e equipados com instalações esportivas.

Teerã é uma cidade limpa e bem sinalizada. Há obras de infraestrutura por toda parte, destinadas principalmente a aliviar o trânsito.

Em 2008, 2010 e 2011, Qalibaf foi finalista do prêmio mundial de melhor prefeito.

"Votarei nele porque vejo diariamente o que ele faz pela cidade", diz o estudante Parham Norozi, 22.

O prefeito também aposta nas suas credenciais revolucionárias para conquistar os milhões de iranianos alinhados aos ideais religiosos e nacionalistas do Estado.

Aos 20 anos, Qalibaf já comandava uma divisão da Guarda Revolucionária, força de elite do regime, na guerra para repelir as tropas iraquianas invasoras.

Depois da guerra, ele se formou em geopolítica e administrou uma megaempresa estatal de construção.

Também nos anos 90 foi apontado pelo líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, para comandar a Força Área.

Zombado pelo próprio filho por ser leigo em aviões, Qalibaf aprendeu a pilotar.

Treinado em jatos Airbus, o prefeito é hoje piloto comercial da Iran Air e faz voos ocasionais, domésticos e internacionais, para manter sua licença.

"Ele faz questão de continuar voando. É a sua paixão", afirma um piloto.

Qalibaf, que também foi chefe da Polícia em Teerã, disse entender que a crise econômica, causada em grande parte pelas sanções ao programa nuclear, é a maior preocupação nacional.

"Precisamos de uma gestão eficiente para melhorar a economia", repetiu nos debates entre candidatos, sem detalhar.

Abedin Taherkenareh - 27.mai.13/Efe
Qalibaf acena para eleitores durante ato eleitoral em maio
Qalibaf acena para eleitores durante ato eleitoral em maio

LAICOS E RELIGIOSOS

Qalibaf parece ser o único dos candidatos na disputa que mobiliza tanto os não religiosos quanto os tradicionalistas.

"Ele prova que um líder islâmico pode ser tão eficiente quanto um secular", diz Mohamed Massih Yarahmadi, editor de uma revista de arquitetura.

Mas o estilo moderno incomoda ultraconservadores, que consideram o pragmatismo um traço antirrevolucionário.

Qalibaf também alimenta desconfianças por não ter agenda externa clara.

Analistas especulam que o prefeito pode ter perdido muitos votos depois do recente vazamento de um áudio na qual ele diz ter ajudado a esmagar protestos estudantis em 1999 e 2003.

"Quando foi preciso, batemos em pessoas, e me orgulho disso", disse.


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