Folha de S. Paulo


Bairro de Istambul tem premiê como ídolo

Enquanto crescem os protestos contra o governo na praça Taksim, em Istambul, o bairro de Kasimpasa é uma pequena ilha de apoio ao premiê Recep Erdogan.

Erdogan, que atraiu a ira da maior parte da cidade após projeto de construir um shopping na área de um parque, cresceu no bairro, que hoje tem estádio de futebol com seu nome --casa do Kasimpasa, que disputa a primeira divisão do campeonato turco.

Editoria de Arte/Folhapress

A região fica em uma antiga área residencial de Istambul e já foi conhecida pelo porto com os mais importantes estaleiros do Império Otomano, mas hoje é pobre.

Os moradores dizem, em tom de repreensão, que Erdogan não parece ter tempo ou interesse para visitar o bairro. Ainda é possível, porém, encontrar lá muitos de seus partidários --Istambul tem mais de 13 milhões de habitantes, e a maioria, essencialmente laica, rejeita o premiê.

Os habitantes de Kasimpasa, majoritariamente muçulmanos e conservadores, ainda veem em Erdogan a melhor opção. "Votei nele nas três eleições, mas sou contra a obra no parque e a violência da polícia. Nas próximas eleições, se houver opção, vou considerar. Mas não quero governo secular. Sou muçulmano", diz Murat Selvi, que vive na região há 40 anos.

No bairro há 33 anos, Ali Kiliçaslan também afirmou que segue apoiando o governo, apesar de ser contra a ação brutal da polícia.

Ele nega que Erdogan tenha viajado à África na semana passada para fugir do conflito: "Ele não entendeu a gravidade da situação, e além disso está muito confiante".

Alice Martins/Folhapress
Vista do bairro Kasimpasa mostra estádio comnome do primeiro-ministro Erdogan, comcapacidade para 14mil pessoas
Vista do bairro Kasimpasa mostra estádio comnome do primeiro-ministro Erdogan, comcapacidade para 14mil pessoas

"Só 30% ou 40% dos manifestantes estão lá por ideologia. O resto quer se divertir", diz Muhterem Duvan, dono de comércio do lado oposto a uma mesquita e perto de uma loja de bebidas alcoólicas, cuja venda o governo quer restringir. "A polícia fez o necessário para controlar a violência. O que as pessoas dizem nas ruas não importa. O que importa são votos."

A algumas quadras dali, no alto de um morro, fica a escola primária Kasimpasa Piyale, onde o premiê estudou.

"Conheço Erdogan há mais de 20 anos", disse à Folha um funcionário da escola, que pediu anonimato. "Era um homem decente e humilde no começo, mas o poder fez dele outra pessoa", afirmou.

O funcionário ecoa a opinião de outros partidários do premiê: "No AKP [sigla de Erdogan] não há democracia. Ninguém lá tem coragem de criticá-lo, por medo. É uma boa pessoa. Mas os bons também cometem erros."


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