Folha de S. Paulo


Cazaquistão pretende ser ponte entre Europa e Ásia

No enorme quadro que adorna o centro de convenções de Astana, o presidente cazaque, Nursultan Nazarbayev, desfila sobre um tapete vermelho e, enquanto caminha, é aclamado por vários líderes mundiais.

A lista inclui Tony Blair, George W. Bush, Vladimir Putin, Silvio Berlusconi, Hu Jintao, Jacques Chirac e até Boris Ieltsin.

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A cena nunca aconteceu, mas revela a ambição do líder do Cazaquistão, o maior e mais próspero país da Ásia Central: tornar sua nação o principal entroncamento terrestre entre o Ocidente e o Oriente.

Esse objetivo, porém, é perseguido sem melindrar Moscou, que controlou a região por mais de dois séculos, até a desintegração da União Soviética.

O quadro testemunha ainda a longevidade de Nazarbayev. Ele conviveu com todos os retratados. Tornou-se presidente na mesma época em que Ieltsin estava ascendendo na Rússia.

Nazarbayev é o único mandatário cazaque desde a independência, ocorrida em 1991, graças a mudanças casuísticas nas regras eleitorais, à perseguição aos opositores e ao bom desempenho econômico.

Fabiano Maisonnave/Folhapress
Funcionária posa diante do quadro em que o presidente cazaque, Nursultan Nazarbayev, é saudado por líderes mundiais
Funcionária posa diante do quadro em que o presidente cazaque, Nursultan Nazarbayev, é saudado por líderes mundiais

O país é o destaque positivo entre as cinco ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central. Diplomatas e analistas residentes em Astana ouvidos pela Folha, a maioria sob anonimato, elogiaram a habilidade de Nazarbayev em conduzir um país que nunca havia existido.

Foram três os grandes desafios pós-independência, segundo o reitor da Universidade Nazarbayev, o japonês Shigeo Katsu: preencher o vazio deixado pelo fim dos subsídios de Moscou para a indústria, saúde e educação e pelo êxodo de centenas de milhares de russos, a elite profissional; criar instituições de Estado e guardar a imensa fronteira; e, ainda, reorganizar a rede viária, até então voltada a Moscou.

Há avanços na maioria desses itens, ainda que desiguais. A demarcação das fronteiras parece terminada, e o dinheiro vindo do petróleo (é o 13º exportador mundial do produto) tem financiado a construção de infraestrutura e melhorado a rede de proteção social. O percentual de pobres caiu de 46,7% para 6,5% em dez anos, segundo o Banco Mundial.

O país tem ainda uma política externa com várias frentes: atraiu petroleiras ocidentais e chinesas, aderiu a uma união aduaneira com Rússia e Belarus e se filiou à Organização para a Segurança e Cooperação na Europa.

Além disso, contrata grandes construtoras da Turquia, com quem mantém laços culturais (o cazaque é uma língua turca), e busca redes de transporte para diminuir a dependência da Rússia na hora de exportar seu petróleo para a Europa, o principal cliente.

Por outro lado, o Cazaquistão não consegue diversificar sua economia: 90% das exportações são recursos naturais, dos quais 70%, petróleo e derivados.

Para o economista Rakhim Oshakbayev, vice-presidente da Câmara Nacional Econômica do Cazaquistão, o país está lutando contra a "doença holandesa", quando a vantagem comparativa para exportar recursos naturais mina outras atividades econômicas, principalmente a manufatura.

Outro desafio é a sucessão do onipresente Nazarbayev. Sua idade avançada, 72 anos, tem incentivado uma série de especulações sobre quem será o segundo presidente da história cazaque.

"Nazarbayev agora está com muita energia, e realmente achamos que ele será reeleito em 2016", disse Oshakbayev. "Depois, o sucessor será escolhido por ele, e a sua decisão terá total apoio da população."

O jornalista FABIANO MAISONNAVE viajou a convite do Fórum Econômico de Astana.


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