Folha de S. Paulo


Líder supremo do Irã proíbe candidatos de prometer diálogo com Ocidente

O líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, exigiu nesta terça-feira que os candidatos à eleição presidencial marcada para 14 de junho parem de prometer melhorar a relação com as potências ocidentais para aliviar as sanções econômicas.

O aviso foi lançado durante evento que marcou o 24º aniversário da morte do aiatolá Ruhollah Khomeini, fundador da República Islâmica, em 1979, e antecessor de Khamenei no cargo de autoridade máxima do país.

AFP
Em discurso, Ali Khamenei exigiu que os candidatos à Presidência do Irã parem de prometer melhor relação com o Ocidente
Em discurso, Ali Khamenei exigiu que os candidatos à Presidência do Irã parem de prometer melhor relação com o Ocidente

"Alguns candidatos, adeptos da incorreta avaliação de que deveríamos fazer concessões aos inimigos para reduzir sua raiva, colocaram seus interesses antes dos da nação iraniana. Isso é errado", disse Khamenei, em discurso no santuário que abriga o corpo de Khomeini, ao sul de Teerã.

"Os candidatos precisam prometer que colocarão os interesses do país acima dos seus", insistiu, diante de milhares de simpatizantes e convidados do corpo diplomático estrangeiro.
Os oito candidatos na disputa estavam presentes. Seis deles são conservadores alinhados com Khamenei, dois são ligados à oposição reformista.

Também estava o presidente Mahmoud Ahmadinejad, que não pode concorrer novamente por já ter cumprido dois mandatos seguidos.

O aviso parece ser destinado inclusive ao mais próximo assessor do líder supremo, o ex-chanceler Ali Akbar Velayati, que defende aliviar as tensões com o Ocidente caso seja eleito.

Embora submetidos à autoridade do líder supremo, presidentes iranianos dispõem de prerrogativas importantes e representam a face externa mais visível do regime, já que Khamenei evita viajar ao exterior.

A deterioração da economia iraniana, assolada por inflação, desemprego e intensa desvalorização da moeda, é amplamente atribuída às sanções financeiras e comerciais impostas por EUA e aliados europeus como formar de pressionar o Irã a ceder nas negociações nucleares.

As potências ocidentais acusam o Irã de desenvolver secretamente a bomba atômica. Teerã nega as acusações e alega que, na condição de signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear, tem direito de enriquecer urânio para fins medicinais e energéticos.

O único candidato iraniano que descarta concessões é o atual negociador nuclear, Saeed Jalili, visto como o mais sintonizado com a estratégia de resistência às pressões pregada por Khamenei.

Jalili afirma que as pressões e o isolamento ajudam o Irã a diversificar e fortalecer sua economia. Mas essa agenda que defende sacrifícios em nome dos ideias revolucionários é contestada por boa parte do eleitorado, que sofre com as sanções.

Num aparente sinal de empatia com as dificuldades da população, Khamenei admitiu que a economia é a maior preocupação nacional. Mas ele sugeriu que os iranianos contribuam para melhorar a situação.

"Se a nossa nação for forte e reduzir seu consumo, e se o próximo presidente conseguir administrar a economia, então o inimigo ficará desarmado na sua confrontação [conosco]", disse.

O líder supremo também rebateu críticas à decisão do regime de barrar da disputa dois candidatos influentes e populares: o ex-presidente centrista Ali Akbar Hashemi Rafsanjani e Esfandiar Rahim Mashaee, principal assessor de Ahmadinejad.

Khamenei disse que uma alta participação popular seria uma resposta adequada aos inimigos do Irã.

"Votar em qualquer um dos oito candidatos é um voto pela república islâmica e um voto de confiança no nosso sistema e processo eleitoral", disse Khamenei, constantemente saudado por simpatizantes com gritos de "Morte à América".


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