Folha de S. Paulo


Economia é 'esquecida' em pleito no Irã

Um cenário de inflação, desemprego e recessão apagou boa parte dos ideais libertários que eletrizaram milhões de iranianos na última eleição presidencial, em 2009.

A crise econômica, somada a implacáveis manobras do regime para silenciar a oposição, mina o entusiasmo de boa parte do eleitorado às vésperas do voto que definirá o sucessor de Mahmoud Ahmadinejad, no dia 14.

Sem poder concorrer a um terceiro mandato seguido, Ahmadinejad sai de cena após oito anos de um governo marcado pela má gestão dos recursos e, principalmente, pelas sanções mais pesadas já impostas ao Irã por seu programa nuclear.

Os oito candidatos a sucedê-lo garantem ter entendido que a deterioração das condições materiais se tornou a maior preocupação num país onde a bonança petroleira disseminou um padrão de vida de classe média.

Mas nenhum dos presidenciáveis tem credenciais econômicas nem propostas concretas para controlar a disparada dos preços e retomar o crescimento.

"Não há ninguém capaz de resolver o desemprego e a crise", diz a professora de inglês Mahsa, 29.

A apatia emperra inclusive a militância reformista, que há quatro anos havia mobilizado multidões para contestar a reeleição de Ahmadinejad, no que ficou conhecido como "Movimento Verde."

"Os tempos mudaram. Hoje a situação econômica é muito mais urgente que a busca por liberdade", diz Hamid, 25, que se formou em engenharia mas não consegue arranjar emprego.

Segundo o analista Mohamad Al Shabani, da Escola de Estudos Orientais e Africanos de Londres, o mesmo eleitorado que em 2009 esperava mudanças amplas hoje anseia principalmente por uma melhor gestão econômica.

Al Shabani diz que o envelhecimento do eleitorado (a parcela com menos de 30 anos de idade caiu de 37% para 33% desde o último pleito) aumenta a proporção de pessoas expostas à crise econômica, já que muitos iranianos deixaram de morar com os pais desde então.

Os mais vulneráveis à crise são os iranianos com baixa renda e pouco instruídos que formam boa parte da base de apoio ao líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, autoridade máxima do país. Um deles é o taxista Mohamad, 61. "A cada mês consigo comprar menos coisas", diz.

Nas áreas mais pobres de Teerã, famílias se queixam de que a ajuda estatal de US$ 15 mensais à qual todo cidadão tem direito já não basta para as necessidades básicas.

Segundo um sociólogo que não quis se identificar, a população sabe que a crise só será aliviada com uma melhora na relação com as potências ocidentais.

Alguns iranianos culpam o regime por provocar as punições, outros atribuem a crise à inimizade do Ocidente.

Embora não tenha poder sobre as negociações nucleares, Ahmadinejad é amplamente responsabilizado pela piora do diálogo por causa de sua hostilidade contra Israel e da retórica abrasiva.

RESISTÊNCIA IDEOLÓGICA

Todos os candidatos à Presidência acenam com algum tipo de concessão externa para solucionar a crise, com exceção do ultrarradical negociador nuclear Said Jalili, que prega a "resistência" para fortalecer o Irã.

Visto como candidato preferido do líder supremo, Jalili esbarra, ao menos por ora, na dificuldade de conseguir apoio maciço à sua agenda de sacrifício nacional em nome da ideologia religiosa.

Segundo escreveu em recente artigo o economista Bijan Khajejpour, a economia ruim diminui a capacidade de mobilização política. "Mas essa frustração pode levar os cidadãos às urnas se eles sentirem que sua escolha pode fazer diferença em como a economia será conduzida."

Editoria de Arte/Folhapress

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