Folha de S. Paulo


Conflitos na Turquia deixam ao menos dois mortos, diz Anistia

Os policiais da Turquia voltaram a tentar dispersar à força as cerca de 10 mil pessoas que continuam concentradas neste domingo em uma praça de Istambul. Conforme a ONG Anistia Internacional, os enfrentamentos, que começaram na sexta (31), já deixaram ao menos dois mortos e mais de mil feridos. Quase 2.000 pessoas foram presas.

Nas últimas horas, os agentes tinham se limitado a impedir que os ativistas se aproximassem do escritório do premiê Recep Tayyip Erdogan, mas, depois, avançaram em direção à multidão, utilizando gás lacrimogêneo e jatos de água, causando ferimentos em várias pessoas.

A situação se tornou ainda mais tensa, com milhares de pessoas tentando resistir à pressão policial, sob um contínuo ir e vir de ambulâncias.

Em outros pontos de Ancara, médicos voluntários montaram pontos de primeiros socorros para atender os feridos e os afetados pela utilização em massa do gás lacrimogêneo. Os manifestantes seguem cantando palavras de ordem para exigir a renúncia do governo, ao qual acusam de empregar métodos ditatoriais.

Também em Esmirna, terceira maior cidade turca, e em Adana, no sul de país, foram registrados confrontos com a polícia, que, como em Ancara, utilizou abundante material antidistúrbio. Os protestos nestas cidades começaram em solidariedade com as de Istambul, iniciadas na madrugada da sexta-feira após o despejo de um parque público, ameaçado pela especulação urbanística.

DISPUTA

O governo de Erdogan enfrenta uma das mais importantes ondas de protesto desde sua chegada ao poder, em 2002. O premiê, neste domingo, acusou o principal partido secular de oposição de estimular uma onda de protestos contra o governo.

O premiê apontou o Partido Popular Republicano --criado em 1924 por Mustafa Kemal Ataturk, que fundou o Estado secular moderno turco-- como responsável pelo que descreveu como uma disputa ideológica. "Nós achamos que o principal partido de oposição, que está fazendo chamados à resistência em cada rua, está provocando os protestos", disse Erdogan na TV turca.

Chamando os manifestantes de "uns saqueadores", Erdogan afirmou que ele seguiria com o plano de obras na praça Taskim, projeto que provocou as manifestações que se transformaram numa demonstração mais ampla contra seu partido de raízes islâmicas, Justiça e Desenvolvimento.

"Isto é um movimento popular, que não está coordenado por nenhum partido ou organização, e peço à comunidade internacional que não se esqueça da juventude turca. A atitude do primeiro-ministro está provocando mais violência", disse Ilhan Cihaner, deputado do opositor Partido Popular Republicano.


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