Folha de S. Paulo


Governo recua após dois dias de protestos na Turquia; mais de 900 são presos

Os confrontos entre manifestantes e policiais na Turquia iniciados na sexta-feira e que se estenderam por este sábado (1º) deixaram pelo menos 79 feridos e levaram à prisão de 939 pessoas, informou o ministro turco do Interior, Muammer Guler, segundo a agência AFP.

As detenções ocorreram durante manifestações em 48 cidades do país nos dois últimos dias, acrescentou Guler.

Os incidentes começaram quando a polícia desalojou com canhões de água e bombas de gás lacrimogêneo uma centena de pessoas que acampavam em um parque da praça Taksim, no centro de Istambul, para impedir que os serviços municipais arrancassem 600 árvores no âmbito de um projeto imobiliário.

O projeto, para a renovação da praça, prevê a supressão do parque Gazi para a construção de um shopping e a reforma de um quartel da época otomana.

O movimento popular, porém, se tornou também um protesto contra o primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan e seu governo.

A violenta intervenção policial de sexta-feira deixou muitos feridos e provocou uma forte mobilização de grande parte da população, que foi se unindo aos protestos ao longo do dia.

Neste sábado, o primeiro-ministro Erdogan, ordenou que as forças policiais se retirassem da praça e do parque Gazi. Imediatamente após a saída da polícia, milhares de pessoas com bandeiras turcas invadiram a praça e o parque ao lado cantando slogans de vitória, com o apoio de fogos de artifício.

Poucas horas antes do recuo das forças de ordem, Erdogan havia afirmado energicamente que a polícia permaneceria na praça Taksim "hoje" (sábado) e "amanhã também", porque o lugar "não pode ser uma área onde os extremistas fazem o que querem".

No meio da tarde, Erdogan havia pedido para que os manifestantes parassem imediatamente com os protestos.

"Convoco os que protestam a interromperem as manifestações imediatamente", disse o primeiro-ministro durante um discurso.

Já o presidente da Turquia, Abdullah Gul, fez um chamado ao "sentido comum" e à "calma" e considerou que os protestos alcançaram um nível inquietante.

"Em uma democracia, as reações devem ser expressadas (...) com sentido comum, com calma, e os líderes devem mobilizar seus esforços para ouvir as diferentes opiniões e inquietações", disse o presidente.

MANIFESTANTES

Na praça, Ataman Bet, de 33 anos, limpava os cacos de vidro da vitrine de seu café, quebrada durante os confrontos, mas disse se sentir orgulhoso da manifestação.

"Nós nos tornamos um só (no protesto). Estão todos juntos: esquerdistas, direitistas, inclusive partidários de Erdogan. As pessoas estão furiosas e estou orgulhosos delas", disse Bet, para quem os vidros quebrados de seu café eram apenas um "sacrifício necessário".

A oposição ao projeto da prefeitura, controlada pelo Partido da Justiça e Desenvolvimento, de Erdogan, chegou ao plano político e agora são feitas críticas a outros projetos de construção em Istambul, em particular a uma terceira ponte no estreito do Bósforo, cuja primeira pesar foi colocada na última quarta-feira, e a um aeroporto gigante.

A Anistia Internacional criticou o "uso excessivo da força diante de manifestantes pacíficos" e a organização Repórteres Sem Fronteiras denunciou os ataques deliberados contra jornalistas, um dos quais foi ferido na cabeça.

Erdogan também se tornou alvo nas redes sociais, onde na sexta-feira era chamado de "Tayyip, o químico" ou "o homem que gasifica", em alusão à grande utilização de bombas de gás lacrimogêneo.


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