Folha de S. Paulo


Empresa de câmbio on-line ajudou a lavar US$ 6 bilhões, dizem EUA

Os operadores do que as autoridades dos Estados Unidos descrevem como uma das maiores organizações mundiais de lavagem de dinheiro e um polo para criminosos que comercializam toda forma de artigos ilícitos, de identidades roubadas a pornografia infantil, foram indiciados na terça-feira por procuradores federais americanos em Nova York.

A organização, Liberty Reserve, foi responsável pela lavagem de mais de US$ 6 bilhões nos últimos sete anos, com milhões de clientes em todo o mundo, de acordo com o indiciamento.

Os promotores dizem que a empresa "facilitava a conduta criminal em todo o mundo" e que o caso, que envolveu a cooperação de agências policiais de 178 países, é visto como um dos maiores processos internacionais por lavagem de dinheiro da história.

As acusações detalham um complicado sistema criado para permitir que pessoas transfiram pequenas e grandes quantias por todo o mundo, de forma virtualmente anônima, de acordo com o indiciamento anunciado pela procuradoria federal americana em Manhattan.

O indiciamento acusa sete dirigentes e funcionários da empresa. Cinco deles foram detidos na sexta-feira na Espanha, Costa Rica e em Brooklyn.

"O Liberty Reserve era de fato usado extensamente para fins ilegais, funcionando na prática como banco preferencial para o submundo criminoso", o indiciamento alega.

O Liberty Reserve, um sistema de câmbio on-line, se tornou veículo preferencial para transferência de dinheiro entre os envolvidos em diversos crimes cibernéticos que atraíram muita atenção recentemente, entre os quais um caso que resultou no indiciamento de oito pessoas em Nova York por seu envolvimento no roubo de US$ 45 milhões em caixas automáticos de 27 países.

O Liberty Reserve foi constituído na Costa Rica em 2006, por Arthur Budovsky, que renunciou à sua cidadania americana em 2011 e foi detido sexta-feira na Espanha.

Preet Bahara, o procurador federal norte-americano em Manhattan, tinha uma entrevista coletiva marcada na sexta-feira para anunciar as acusações, em companhia de funcionários do Departamento da Justiça, Serviço Secreto, Internal Revenue Service (IRS, o serviço federal de receita norte-americano) e Departamento de Segurança Interna.

Além das acusações criminais, cinco nomes de domínio foram confiscados, entre os quais o usado pelo Liberty Reserve, e as autoridades fecharam ou restringiram as atividades de 45 contas bancárias.

As acusações delineiam como o sistema de transferência de dinheiro opera, oferecendo um vislumbre do nebuloso mundo das transações financeiras on-line, que transferem dinheiro em um piscar de olhos de lugares distantes como o Chipre para, por exemplo, Nova York.

A fim de transferir dinheiro por meio do Liberty Reserve, o usuário precisa apresentar nome, endereço e data de nascimento. Mas não é necessário validar sua identidade. "Portanto, é fácil abrir contas com o uso de identidades fictícias ou anônimas", o indiciamento aponta. Os promotores mencionam nomes "estrondosamente criminosos" usados por clientes do Liberty Reserve, entre os quais "Hackers Russos".

Essencialmente, tudo que um cliente precisa para abrir uma conta é um endereço de e-mail.

ANONIMATO

Um importante funcionário de uma organização policial informou que um agente operando infiltrado conseguiu registrar contas sob nomes como "Joe Falso" e descrições de função como "para comprar cocaína", sem ser questionado. O fato de que não existia um sistema de verificação fez do Liberty Reserve o banco preferencial para os criminosos cibernéticos, facilitando ampla gama de atividades ilegais on-line.

Depois de estabelecer uma conta, o usuário podia enviar dinheiro a ou receber dinheiro de outros clientes do serviço.

Mas o Liberty Reseve não recebia ou fazia pagamentos em dinheiro diretamente. Em lugar disso, usava "cambistas" externos para isso, de acordo com o indiciamento. Os cambistas recebiam e faziam pagamentos e depois creditavam ou debitavam as contas no Liberty Reserve. As autoridades tomaram o controle de quatro bolsas de câmbio que operavam com o Liberty Reserve, e de 35 outros sites.

Isso permitia que o Liberty Reseve não recolhesse informações bancárias sobre seus clientes e não oferecesse um "histórico centralizado de documentos".

O Liberty Reserve recomendava uma série de "cambistas aprovados" aos seus usuários, que tendiam a ser "negócios não licenciados de transferência de dinheiro sem fiscalização governamental ou regulamentação significativa, concentrados na Malásia, Rússia, Nigéria e Vietnã", afirma o indiciamento.

As pessoas que aceitavam pagamentos via Liberty Reserve eram "em sua maioria esmagadora criminosos", de acordo com um indiciamento.

"Entre eles havia traficantes de dados roubados de cartões de crédito e informações pessoais de identidade; praticantes de diversas espécies de esquemas de pirâmide e enriquecimento rápido on-line; hackers oferecendo serviços; serviços de apostas não regulamentados; e sites clandestinos de comércio de drogas", de acordo com o indiciamento.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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