Folha de S. Paulo


Movimento Verde tem chance remota de voltar no Irã

Quando tinha 20 anos de idade, o estudante Salim esteve entre os milhões de iranianos que tomaram as ruas de Teerã para contestar a reeleição do conservador Mahmoud Ahmadinejad à Presidência, em 2009.

Salim fazia parte do Movimento Verde, dominado por jovens liberais, que adotou a cor de campanha do principal candidato derrotado, o reformista Mir Hossein Mousavi, como símbolo da revolta contra supostas fraudes.

Movida pela esperança de maior abertura do regime, a onda verde estremeceu o Irã, mas acabou esmagada por policiais e milícias.

Quatro anos depois, em meio aos preparativos para a primeira eleição presidencial desde então, marcada para 14 de junho, Salim diz ter rompido com a política.

"Nunca mais votarei porque acredito que, como na vez passada, a eleição tenha cartas marcadas, e algum escolhido se tornará presidente", afirma. "O sangue e as mortes não levaram a lugar nenhum. Perdi a fé."

A eleição presidencial de 2009 foi um divisor de águas na história da república islâmica, que até então registrara votações sem sobressaltos.

A vitória de Ahmadinejad foi chancelada pelo líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, que declarou ilegal toda contestação.

Multidões desafiaram a ordem, mesclando questionamentos ao resultado e à própria natureza do Estado.

Houve dezenas de mortes, prisões e acusações de tortura. Intelectuais, artistas e jornalistas fugiram do país.

No golpe mais duro para os verdes, líderes modernizadores foram banidos da vida pública sob acusação de querer derrubar o regime, enterrando a tradicional polarização nacional entre conservadores e reformistas.

Hoje, entre os oito candidatos aprovados na disputa presidencial, apenas dois são liberais, sem apelo dentro da base militante.

Até o clã de Ahmadinejad caiu em desgraça e foi barrado de disputar a Presidência por ser visto como ideologicamente rebelde.

"Para que votar se as fundações do sistema estão erradas?", questiona a contadora Nasrin, 31, que também protestou em 2009.

Salim e Nasrin ilustram a apatia dominante nos meios urbanos de classe média que haviam conduzido os protestos, com ajuda das redes sociais. Muitos jovens iranianos estão desiludidos e carentes de alternativas.

"O Movimento Verde está morto", afirma Hooman Majd, autor do livro "The Ayatollah Begs to Differ" (O aiatolá pede para discordar). "Os ativistas e reformistas não têm um líder ou uma agenda para seguir."

Segundo Majd, muitos iranianos entenderam que o Estado não só é poderoso e capaz de travar mudanças como ainda tem legiões de apoiadores dispostos a acabar com protestos nas ruas.

"Quem se manifestou em 2009 está quatro anos mais velho. Temas sociais importam para eleitores jovens, enquanto mais velhos focam na economia", diz Mohamad Ali Shabani, doutorando na Escola de Estudos Orientais e Africanos de Londres.

Apenas três entre a dúzia de ex-manifestantes consultados pela Folha cogitam votar neste ano. Salvo dois deles, todos descartam novos protestos.

O analista Shabani especula que Rafsanjani ainda pode jogar seu peso em favor de um dos dois candidatos não conservadores.

Ele prevê uma fonte reformista: "Revoltas são cíclicas na história do Irã. Um dia tudo voltará a explodir."


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