Folha de S. Paulo


Análise: Sucessão pode ter impacto em programa nuclear do país

Os 700 candidatos iniciais já foram reduzidos a oito nomes aceitáveis para os guardiões da revolução em Teerã, e os homens selecionados agora devem disputar um posto que foi privado anos atrás do poder de tomar decisões estratégicas de política externa.

Mas o resultado da eleição presidencial iraniana do mês que vem ainda pode ter impacto além das fronteiras do país, sobre as negociações quanto ao programa nuclear, paralisadas por um longo impasse, e o intratável conflito na Síria.

É o líder supremo, o envelhecido aiatolá Ali Khamenei, que toma essas decisões, em última análise, mas ele não as toma no vácuo, e precisa levar em conta os demais manipuladores do poder no sistema.

Um deles é o presidente --que ao menos pode alegar mandato popular, por mais circunscritas que sejam as regras do jogo eleitoral, o que não se aplica aos generais e aos líderes religiosos em torno da mesa.

As peçonhentas disputas internas não só ocuparam o tempo e a energia da liderança como também deram aos seus protagonistas estímulo para sufocar iniciativas audaciosas de política externa, para evitar o risco de que propiciem capital político e legitimidade a seus opositores internos.

"Quando o assunto é a questão nuclear, existem forças em Teerã que não desejavam qualquer forma de acordo sob Ahmadinejad pela qual o presidente pudesse assumir o crédito, mesmo que o avanço nada devesse a ele", disse Mohammad Ali Shabani, editor da "Iranian Review of Foreign Affairs". "A eleição apresentará uma oportunidade de mudança de posição. Não importa se para mais branda ou mais dura, a posição mudará."

O mesmo provavelmente se aplicará à Síria, onde guardas revolucionários iranianos estão assessorando o regime, treinando soldados sírios e apoiando a milícia xiita libanesa Hizbullah, que vem desempenhando papel crucial nos combates.

Para alguns analistas e diplomatas iranianos, porém, a crença de que as eleições do mês que vem prenunciarão uma nova abordagem em Teerã representa apenas o triunfo da esperança sobre a experiência.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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