Folha de S. Paulo


Premiê haitiano pede que saída do Brasil seja gradual

O primeiro-ministro do Haiti, Laurent Lamothe, chega hoje a Brasília com um pedido claro e inusitado a fazer ao país: quer um novo jogo entre a seleção haitiana e a equipe brasileira na cidade de Porto Príncipe.

"O Haiti merece outra chance de jogar com a seleção", diz, em português, durante entrevista à Folha antes da viagem, por telefone.

No chamado "jogo da paz", realizado em agosto de 2004, a seleção local perdeu de 6 a 0 dos brasileiros, tratados como heróis pelos haitianos.

"Precisamos de uma revanche", brinca o premiê, que tem uma série de encontros com autoridades.

Adalberto Roque-16.mai.13/AFP
O primeiro-ministro do Haiti, Laurent Lamothe, durante visita a mausoléu dos heróis cubanos, em Havana, na semana passada
O primeiro-ministro do Haiti, Laurent Lamothe, durante visita a mausoléu dos heróis cubanos, em Havana, na semana passada

No Haiti, o Brasil lidera a força militar da missão da ONU, com a responsabilidade de manter a estabilidade no país e ajudar na reconstrução após o terremoto de 2010.

Aos 40 anos, Lamothe é o mais jovem premiê da história do país. O esporte sempre foi parte de sua vida.

Chegou a integrar a equipe haitiana de tênis na Copa Davis em 1994 e em 1995, mas sem chegar à elite do torneio.

Enquanto competia, estudou nos Estados Unidos e, em seguida, lançou uma bem-sucedida empresa da área de telecomunicações.

Empossado primeiro-ministro em abril do ano passado, após indicação do presidente Michel Martelly, Lamothe afirma que a principal preocupação do governo é a geração de empregos.

O país tenta se recuperar, nos campos econômico e social, do terremoto.

"Ainda hoje, temos equipes removendo detritos de nossas cidades, mas temos feito grandes progressos --97% do total já foi removido, o que equivale ao volume de 4.000 piscinas olímpicas. Além disso, mais de 80% dos problemas de gente que estava sem moradia foram solucionados", diz o premiê.

Lamothe avalia que o país está pronto para a retirada das tropas da ONU --desde que feita de forma gradual, como vem sendo planejado.

"Dez anos de liderança de uma missão de paz vêm com um alto custo político e financeiro para o Brasil, que auxilia na manutenção de nossa estabilidade e segurança. Mas estamos prontos para o país promover essa retirada das tropas, de forma cuidadosamente organizada e devagar", afirma Lamothe.

O governo haitiano investe na reorganização de suas forças policiais e espera chegar a um número de 15 mil integrantes daqui a dois anos.

CIDADÃOS RESPEITÁVEIS

Após o terremoto, muitos cidadãos saíram do Haiti, às vezes de forma ilegal, em busca de melhores condições em outros países --inclusive no Brasil.

Apesar da condição precária de vida em municípios próximos à fronteira com a Bolívia, por onde entram, Lamothe é só elogios ao país.

"Nós temos trabalhado duro para monitorar a situação na fronteira, mas agradecemos por toda a cooperação das autoridades brasileiras nessa questão. Nos EUA e no Canadá, nossos cidadãos se tornaram parte respeitável das sociedades locais, e esperamos que o mesmo aconteça no Brasil", afirma.

Durante a visita ao país, Lamothe deve se reunir com ministros do governo federal, em Brasília, e com o empresariado paulista, na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), onde espera atrair investimentos para o Haiti, especialmente na área têxtil.


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