Folha de S. Paulo


Análise: Brasil não parece disposto a comprar briga com governo Evo

No ano passado, em pouco mais de 20 dias, a então secretária de Estado dos EUA, Hilary Clinton, conseguiu um feito: negociou a saída do dissidente cego Chen Guangcheng da China sem rompimento com Pequim.

Senador boliviano preso em embaixada vai ao STF

Ele havia se refugiado na embaixada americana. Após dias frenéticos de negociação, Guangcheng embarcou em um avião rumo aos EUA.

Ninguém diria que EUA e China sejam aliados e tenham uma relação sem rusgas. Já o Brasil e a Bolívia compartilham vários foros: são membros e aliados na Unasul, e os bolivianos negociam a adesão plena ao Mercosul.

No entanto, o governo brasileiro não consegue --ou não quer-- resolver o caso do senador Roger Pinto.

O governo de Evo Morales se recusa a dar salvo-conduto para o senador.

Foi constituído um grupo de discussões para o caso, mas a situação está bem longe de ser resolvida, segundo pessoas envolvidas nas negociações.

"É inacreditável que o governo da Bolívia esteja desrespeitando o Brasil ao não conceder o salvo-conduto", diz o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES). "Estamos acompanhando o grupo de trabalho (de negociação sobre o asilo do senador), mas as coisas não saem do lugar."

A Unasul foi célere ao condenar a recusa do Reino Unido de dar salvo-conduto a Julian Assange, o fundador do WikiLeaks asilado na embaixada do Equador em Londres.

E quanto a Roger Pinto? Silêncio ensurdecedor.

"Não há saída indolor, quanto mais postergarmos isso, pior vai ser", diz uma autoridade do governo envolvida nas negociações.

Segundo essa autoridade, entre políticos da oposição e familiares, há cerca de cem refugiados políticos bolivianos atualmente no Brasil.

"É o lado duro da liderança regional, requer que se digam as coisas desagradáveis também. Não dá para demonstrar só benevolência com os vizinhos", afirma.

Mas a presidente Dilma Rousseff não parece disposta a comprar essa briga com o presidente Evo Morales.

E deixa o Ministério das Relações Exteriores de mãos atadas.


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