Folha de S. Paulo


ONU aprova resolução em que pede 'rápida transição política' no país

A Assembleia-Geral das Nações Unidas aprovou, ontem, sua quinta resolução contra o regime sírio. Desta vez, o texto pede uma "rápida" transição política no país e condena novamente as violações aos direitos humanos cometidas pelos dois lados.

O texto, preparado por países do golfo Pérsico, teve 107 votos a favor, 12 contra e 59 abstenções --este último número, bem maior do que nas outras votações.

A resolução não tem força legal, mas serve como condenação política ao regime de Bashar al-Assad.

O Brasil foi um dos que se absteve --decisão inédita na Assembleia-Geral desde o início do conflito, em 2011.

O governo brasileiro já havia optado pela abstenção quando fazia parte do Conselho de Segurança, em outubro de 2012, mas na Assembleia apoiou as outras quatro condenações ao regime.

Ao explicar o voto, o Brasil disse ser "injustificável" não ter sido incluída no texto uma conclamação explícita para que não haja escalada militar do conflito.

Diplomatas disseram à Folha que o país se preocupa com uma possível intervenção externa na Síria e com a continuidade no fornecimento de armas aos dois lados.

O governo ainda critica o reconhecimento da Coalizão Nacional Síria como interlocutor da oposição para a transição política.

"Não cabe à Assembleia-Geral, neste momento, mesmo que indiretamente, conferir legitimidade ou decidir quem deve ser o representante da oposição síria, e muito menos do povo sírio", disse a embaixadora do país na ONU, Maria Luiza Viotti.

Essa foi a principal reclamação dos 59 países que se abstiveram. Para os brasileiros, reconhecer a coalizão pode resultar na exclusão do governo sírio do processo de transição.

"Não é paranoia imaginar que o secretário-geral vai procurar apenas a oposição [para conversar], sendo que deveria procurar os dois lados", disse uma pessoa próxima às negociações.

Bashar Jafari, embaixador sírio na ONU, havia pedido antes da votação que os Estados-membros se opusessem ao texto. Durante seu discurso, ele criticou o apoio à coalizão e a entrega de armas à oposição. Rússia, China e Irã --aliados de Assad-- também criticaram a proposta.

O conflito entre insurgentes e regime foi iniciado em março de 2011. A ONU atualizou sua estimativa de vítimas, afirmando que mais de 80 mil pessoas já foram mortas. O número divulgado em fevereiro estimava 70 mil. (DIOGO BERCITO E JOANA CUNHA)


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