Folha de S. Paulo


Haitianos formados no Brasil têm saudade de programas culturais

A ligação dos arquitetos urbanistas haitianos Roubens Bruno, 26, e Thamar Pierre Jérome, 26, com o Brasil vai além do fato de trabalharem para a Cooperação Tripartite Brasil-Cuba-Haiti, acordo de saúde firmado pelos três países em 2010.

Em 2007, depois de passar por um processo seletivo que incluía entrevistas e avaliação de conhecimentos, ambos viajaram para Belo Horizonte como universitários matriculados no Instituto Metodista Izabela Hendrix, como parte do Programa de Capacitação de Jovens Lideranças de Países em Reconstrução, que inclui jovens do Haiti e de Kosovo.

O programa é fruto de uma parceria do instituto com a Haiti Global Vision Ministries, organização que congrega igrejas protestantes no país caribenho, e com o Instituto Brasil Kosovo de Intercâmbio e Projetos Internacionais. Atualmente, nove estudantes do Haiti e seis do Kosovo estão matriculados, mas o programa está congelado.

Segundo Ana Clara Oliveira Santos Garner, professora e assessora de relações internacionais do instituto, ele passa por uma fase de reestruturação e busca de novas parcerias --recentemente o governo de Minas entrou nesse grupo.

Passaram pelo instituto 19 haitianos. Todos os formados têm o compromisso de retornar aos seus países de origem, para multiplicar o que aprenderam. Passagens, faculdade e hospedagem são bancados pelo programa. A alimentação às vezes entra no pacote, mas não é a regra.

Thamar conta que foi uma "experiência incrível", apesar das dificuldades iniciais com o idioma: "A gente tinha de correr atrás para acompanhar as aulas, ver televisão, perguntar, porque tivemos só um mês de imersão em português no Brasil e três semanas no Haiti".

Bruno tem saudades das mesas de bar, ou "encontros ao redor da mesa", como define. "Isso é muito bom, as pessoas nem nos conheciam e nos convidavam para conversar, sair, sinto falta disso e dos amigos."

Thamar começa a citar cidades que conheceu, teatros e museus, e Bruno resume, brincando: "Temos saudade de todas as opções de cultura, muitas delas de graça, que o pessoal de Belo Horizonte tem, mas ainda reclama!"


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