Folha de S. Paulo


Hackers promovem guerra de informação sobre conflito sírio

Enquanto os Exércitos do regime sírio e da insurgência batalham pelo controle físico de cidades como Damasco e Aleppo, soldados de outra sorte disputam em um terreno abstrato --a informação.

Armados pela informática e camuflados no anonimato, um grupo de hackers montou o chamado Exército Eletrônico Sírio tendo em vista invadir a internet e divulgar seu ponto de vista a respeito do conflito dentro do país.

Na semana passada, o site satírico "The Onion" uniu-se à lista de territórios tomados pelos corsários virtuais.

O Exército Eletrônico Sírio apresenta-se como uma iniciativa independente motivada pela necessidade de informação em meio ao conflito.

Mas Helmi Noman, um pesquisador da Universidade de Toronto, rastreou o domínio desses soldados virtuais --e descobriu que o site foi registrado pela Sociedade Síria de Computadores, antigamente liderada pelo próprio ditador Bashar al-Assad.

"Os Exércitos eletrônicos que surgiram durante a Primavera Árabe são, em geral, campanhas de relações públicas", diz. "Hackear tem sido uma das táticas usadas por regimes árabes para destruir o conteúdo virtual de seus oponentes. É uma maneira radical de censura."

Desde o surgimento, esse grupo atacou sites como os da Universidade Harvard e da rede de televisão Al Jazeera. O Exército virtual pilhou, também, a conta de Twitter da agência de notícias Associated Press, publicando notícias falsas sobre o conflito.

"Isso, é claro, envergonha os veículos de imprensa e deixa perplexos seus seguidores", afirma Noman. "Se eles continuarem a invadir contas de Twitter, os usuários vão passar a pensar antes de acreditar no que eles leem."

DESCRENÇA

A atividade de hackers pró-regime em países como a Síria se alimenta, em parte, da descrença da população em relação ao que é divulgado por veículos de imprensa.

À Folha, moradores de Majdal Shams --um vilarejo anteriormente sírio, controlado por Israel desde 1967-- afirmam apoiar o regime de Assad por não acreditar no que veem pela TV. A dúvida é especialmente forte quando se trata de informação de Al Jazeera e Al Arabiya, financiados por Qatar e Arábia Saudita, que são contrários ao regime sírio.

"A brutalidade extremiza as posições", afirma Wiyam Amasha, 31, morador da vila de Buqata, nas colinas de Golã --de forte influência síria. "O regime diz que é culpa da oposição, a oposição diz que é culpa do regime."

"A maior parte da mídia tem uma agenda. Nunca são só fatos", afirma. "Estamos longe dos acontecimentos."

Amasha combate grupos como o Exército Eletrônico Sírio divulgando via Facebook fotos e informações a respeito do conflito no país.

Recentemente, ele descobriu que seu nome está em uma lista de assassinatos do serviço secreto. Seu pai passou 14 dias internado, após um acidente de carro que ele acredita ter sido intencional.

"O problema é que a rede social é ampla e está fora do controle, e é difícil encontrar seu caminho entre tanta informação, tanto barulho", afirma. "O regime sírio também descobriu esse fato."


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