Folha de S. Paulo


Lula domina visita de venezuelano a Brasília e atrasa agenda de Dilma

Com agenda de chefe de Estado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva atrasou nesta quinta-feira (9) em quase duas horas todos os compromissos oficiais entre a presidente Dilma Rousseff e o presidente venezuelano, Nicolás Maduro.

Depois da posse do novo ministro Guilherme Afif Domingos (Secretaria de Micro e Pequena Empresa), a presidente seguiu para o Palácio da Alvorada para almoçar com o ex-presidente.

Na sequência, Lula seguiu para um encontro com Maduro na embaixada da Venezuela enquanto Dilma esperou no Planalto por cerca de 1h40 até que Maduro voltasse do encontro com o padrinho político.

O venezuelano e o brasileiro discutiram sobretudo questões de diplomacia entre a Venezuela e demais países do Cone Sul.

Conselheiro político de Maduro nas últimas eleições de abril, Lula tem especial preocupação com os primeiros meses do governo do sucessor de Hugo Chávez, que enfrenta forte oposição capitaneada pelo seu principal adversário, Henrique Capriles, após suspeitas de fraude e pedidos de recontagem de votos.

Em nota divulgada pelo governo da Venezuela, os vizinhos do Brasil chamam Lula de "presidente 'obrero' [da classe trabalhadora] que sempre defendeu o caráter democrático da revolução bolivariana" e que ajudou a consolidar uma "sólida relação" que gerou "numerosas obras de infraestrutura".

"Sou o segundo presidente 'obrero' da história", disse Maduro durante o encontro.

Pedro Ladeira/Folhapress
A presidente Dilma Rousseff recebe o venezuelano Nicolás Maduro no Palácio do Planalto, em Brasília
A presidente Dilma Rousseff recebe o venezuelano Nicolás Maduro no Palácio do Planalto, em Brasília

OPOSIÇÃO

Já no Palácio do Planalto, conforme a Folha antecipou na edição desta quinta-feira, o venezuelano ouviu a sugestão de que é preciso estabelecer um canal de diálogo com a oposição em Caracas. Maduro foi recebido no fim da tarde pela presidente Dilma numa reunião de trabalho em que foram discutidas cooperações em segurança, habitação e indústria.

O Brasil avalia que o acirramento político no país vizinho atrapalha os primeiros meses do novo governo, sobretudo diante das dificuldades econômicas.

"Estou certa de que manterei um nível elevado de relacionamento, a exemplo do relacionamento que mantive durante os anos de que desfrutei com o presidente Chávez", disse Dilma. Ela destacou que a parceria com o país latino-americano é importante para rechaçar quaisquer tipos de "pretensões hegemônicas".

Maduro visita o Brasil em seu primeiro giro pelo Mercosul após sua eleição, no mês passado. Ficou reunido com Dilma por cerca de duas horas em conversa reservada.

A Folha apurou que a Venezuela quer se afirmar como fornecedor de produtos agrícolas e derivados de petróleo para o Norte e o Nordeste do Brasil. Por outro lado, o estreitamento de laços com a Venezuela, sobretudo por meio do Mercosul, poderia facilitar o acesso brasileiro aos mercados caribenhos.

Dilma e Maduro discutiram cooperação em áreas como de alimentos, energia elétrica e de petróleo, agricultura, desenvolvimento social e habitação. Trataram ainda de possíveis cooperações na área de abastecimento, segurança alimentar e suprimento energético.


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