Folha de S. Paulo


Governo não sabe quanto custou campanha de brasileiro à chefia da OMC

O governo ainda não sabe quanto foi gasto durante a campanha do embaixador Roberto Azevêdo, eleito ontem diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio). A candidatura contou com amplo apoio da máquina estatal.

Segundo o embaixador Ruy Pereira, coordenador da equipe de apoio à campanha de Azevêdo, todas as capitais dos 159 países-membros da OMC foram visitadas pela candidatura. Em algumas, houve a presença do próprio Azevêdo, em outras de emissários do governo, com envio de autoridades do Itamaraty e do Ministério do Desenvolvimento.

"Estamos finalizando as contas. A mobilização desse volume de pessoas e praticamente todos os cantos do planeta implica em gastos e é difícil contabilizar de imediato", afirmou em coletiva de imprensa nesta quinta-feira (9) em Brasília.

Segundo ele, não havia um orçamento prévio, pois não se tratou de um "projeto específico".

"A campanha foi executada como tarefa da chancelaria. Esse conjunto de materiais e pessoas foi direcionado para isso", afirmou.

Pereira, embaixador do Brasil no Mercosul, também coordenou a vitoriosa campanha de José Graziano da Silva ao comando da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação).

Um grupo composto por 12 diplomatas e 12 funcionários do Itamaraty foi montado para coordenar a campanha, mas houve reuniões periódicas com representantes de 20 outros órgãos do governo.

"Houve decisão da presidenta de apoiar pessoalmente a campanha. O governo funcionou como voz unívoca. Não houve autoridade em Brasília que recebesse autoridade estrangeira que não tivesse atualizada sobre a campanha e com argumentos para defendê-la", disse Pereira.

Segundo Pereira, o governo enviou 20 emissários especiais para gestões junto a outros governos. Foram, no total, 61 viagens. Além disso, todas as 212 embaixadas brasileiras no exterior atuaram na campanha.

"Todos os chefes de posto fizeram três ou quatro rondas de gestões sucessivas à medida que íamos avançando no processo de gestão", afirmou.

No total, foram enviadas 571 correspondências a autoridades estrangeiras, incluindo cartas assinadas pela presidente Dilma e pelos ministros Antonio Patriota (Relações Exteriores), Fernando Pimentel (Desenvolvimento), Antonio Andrade (Agricultura) e Pepe Vargas (Desenvolvimento Agrário)

Pereira negou que, durante a campanha, o governo brasileiro tenha prometido firmar cooperações técnicas com países da África, América Central e Caribe em troca de votos, apesar da presença de diretores da ABC (Agência Brasileira de Cooperação) nas visitas feitas por Azevêdo nestas regiões.

"[A presença da ABC] Não foi exatamente no sentido de inventar projetos de cooperação. O propósito foi permitir um contato direto para identificar as opiniões desses governos sobre as cooperações técnicas já em andamento", afirmou.

De acordo com Pereira, ao longo da campanha, foram frequentes os questionamentos por parte dos países ricos sobre a suposta postura protecionista do Brasil.

"Foi muito colocado na mesa. Foi o argumento mais utilizado nos cinco meses de campanha em quase todas as oportunidades de debate no mundo desenvolvido. No sul, não existe esse argumento", obsevou.

Ele voltou a pontuar o sucesso da campanha brasileira, que não recebeu nenhum questionamento por parte dos membros da OMC. Caso algum país se posicionasse contra a candidatura de Azevêdo, o processo seria interrompido, já que a escolha exige consenso entre os todos os países.

Pelas contas de Azevêdo, o Brasil conquistou pelo menos dois terços dos 159 votos.


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