Folha de S. Paulo


OMC vive situação crítica e está paralisada, diz novo diretor-geral

O novo diretor-geral da OMC, o brasileiro Roberto Azevêdo, disse nesta quarta-feira, em entrevista coletiva, que a situação da entidade é crítica. Ele foi eleito na terça (7), derrotando o mexicano Herminio Blanco.

"A OMC está num estágio muito crítico. Nós costumamos dizer isso, mas é verdade mesmo. As negociações estão completamente travadas. Há uma paralisia clara no sistema."

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Ele disse que se empenhará para recuperar a importância da organização como mecanismo para facilitar as relações multilaterais.

"Ou as bases mudam, ou o mundo vai avançar e a OMC vai ficar para trás. É isso que nós temos que evitar", afirmou. "Na minha visão, estamos correndo risco de perder um mecanismo muito valioso".

Segundo Azevêdo, a OMC não consegue avançar devido ao fracasso na Rodada Doha, de liberalização do comércio global. Ele colocou a retomada das reuniões de negociação como "prioridade número um".

"Resolvendo a rodada Doha, vamos destravar a organização e tirá-la da paralisia em que ela se encontra nos últimos cinco anos. Temos que achar uma solução o mais rápido possível".

O brasileiro prometeu empenho para combater o protecionismo e disse que o trabalho deve começar antes de sua posse, em 1º de setembro, para evitar o fracasso da conferência de Bali, em dezembro.

"Não sei o estágio em que estaremos até lá. Muita coisa vai acontecer. Espero encontrar o paciente com o coração batendo e respirando".

APOIO

Mais cedo, os embaixadores dos Estados Unidos e da União Europeia prometeram apoiar a gestão do brasileiro. Os países desenvolvidos votaram no candidato mexicano, Herminio Blanco. Azevêdo foi eleito com apoio da China e das nações emergentes.

"É um dia muito bom para a OMC como instituição. Nos estamos muito felizes em fazer parte do consenso por Azevêdo", disse o embaixador americano Michael Punke.

"Achamos que ele será um diretor-geral muito bom, e vamos trabalhar junto com ele. Nós apoiamos o consenso", acrescentou.

A embaixadora do Reino Unido, Karen Pierce, disse esperar que a articulação do seu país para que a UE votasse em Blanco não atrapalhe as relações britânicas com o Brasil.

Ela afirmou que a irritação do governo brasileiro com Londres deve ser um "mal-entendido". "Temos uma relação muito forte com o Brasil. Seria uma pena. Se isso for verdade, é um mal-entendido", disse.

OMC

O brasileiro Roberto Azevêdo, 55, foi eleito na terça-feira (7) como diretor-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio). É a primeira vez em que um latino-americano é eleito para um mandato completo de quatro anos.

Na última fase da disputa, Azevêdo derrotou o mexicano Herminio Blanco, 62, e trouxe ao Brasil uma de suas maiores vitórias diplomáticas. A decisão foi tomada em Genebra (Suíça) com a participação dos 159 países que integram a entidade.

O diplomata começou a carreira no Itamaraty em 1984 e foi o principal assessor econômico do então chanceler Luiz Felipe Lampreia de 1995 a 1997. Participou, em 2001, da criação da Coordenação-Geral de Contenciosos do Itamaraty, que dirigiu por quatro anos.

Em 2005, ele se tornou o chefe do departamento econômico do ministério e, de 2006 a 2008, foi subsecretário geral de assuntos econômicos.

Foi em 2009, quando já estava à frente da representação na OMC, que o órgão autorizou o Brasil a retaliar os EUA pelos subsídios ao algodão.

O Brasil ganhou papel predominante na OMC a partir de 2003, durante o governo Lula (2003-2010), e se tornou um dos maiores negociadores junto da UE, do Japão, da China, da Índia, dos EUA e da Austrália.

O país defende um enfoque gradual para derrubar barreiras comerciais e um grande papel para o governo na regulação do comércio, o que já provocou queixas de países ricos, como os EUA e o Japão, e de companheiros emergentes, como a China e a Coreia do Sul.


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