Folha de S. Paulo


Para ex-embaixador, vitória de Azevêdo na OMC é 'medalha no peito'

Uma medalha a mais no peito. É esse o impacto para o Brasil da eleição de Roberto Azevêdo à direção-geral da OMC (Organização Mundial do Comércio), segundo o diplomata Roberto Abdenur, ex-embaixador do país em Washington (2004-2007).

Para ele, ao mesmo tempo que é um reconhecimento do papel do Brasil em Genebra e no G-20 (que reúne as principais economias do mundo), a vitória do candidato do país também ajuda a levantar ainda mais o nome do Brasil no cenário internacional.

"O Brasil sempre foi um dos grandes 'players' na OMC. Vejo a eleição como um reconhecimento ao papel histórico do Brasil para formar um sistema de comércio multilateral verdadeiramente sólido", disse Abdenur.

"Agora, o país está numa posição privilegiada de ter dois diretores-gerais de grandes organizações internacionais: o [José] Graziano, na FAO [Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação], e o Azevêdo na OMC. Só está faltando um laurel na nossa coroa, que é entrar para o Conselho de Segurança", completou.

Apesar de destacar que a OMC e o Conselho de Segurança estão em "esferas diferentes", ele diz acreditar agora num possível apoio dos Estados Unidos ao pleito brasileiro por um assento permanente no seleto grupo.

A posição não é compartilhada por Rubens Barbosa, que também foi diplomata do Brasil em Washington (1999-2004). "Não tem nada a ver [um pleito com o outro]. A OMC trata de questões mais técnicas, a ONU é outro tipo de coisa", disse Barbosa.

Para ele, contudo, a eleição mostra "a projeção que o Brasil tem" hoje. "O Brasil ainda tem muitos poucos cargos internacionais. Mas essa vitória e a do Graziano na FAO mostram que o Brasil tem pessoas qualificadas para qualquer posto em organismos internacionais e a importância que o país está gradualmente adquirindo no exterior", observou.

CAMPANHA

Os dois, porém, concordam que a capacidade de liderança do Brasil entre os países em desenvolvimento foi fundamental para a vitória de Azevêdo.

"Ele não tinha o apoio dos EUA nem da Europa e prevaleceu --isso mostra a importância que os países em desenvolvimento estão dando à revitalização da OMC, porque é quem faz regras e arbitra diferenças entre países na área comercial", disse Barbosa.

Para o diplomata, o governo fez um trabalho importante de convencimento entre os países em desenvolvimento de que "a melhor solução para eles nesse momento era a brasileira".

Abdenur considera que o sucesso da candidatura de Azevêdo se deve, além das qualificações do candidato, ao momento em que ela ocorreu. Para ele, a diferença entre o futuro diretor-geral e o embaixador Luiz Felipe de Seixas Corrêa, que perdeu a disputa à OMC em 2005, é que agora, com a Rodada Doha [para liberalização do comércio mundial] estagnada, as duras posições do Brasil não estão tão em evidência.

"Azevêdo é um sujeito extremamente competente como era o Seixas. Mas, naquele contexto, o Brasil era um dos líderes do chamado G-20 da OMC. E estando à frente de um confronto entre países em desenvolvimento e desenvolvidos, não tinha como eleger um candidato, por mais competente que fosse", disse.

"O Brasil não podia ser capitão de um time e juiz de um jogo ao mesmo tempo", completou.

Desta vez, o governo brasileiro investiu na campanha de Azevêdo com boa parte de seu corpo diplomático. Nos últimos quatro meses, os principais representantes do Itamaraty para cada região foram enviados em uma peregrinação pelas capitais em busca de voto.

Em fevereiro, o enviado especial para o Oriente Médio, Cesário Melantonio Neto, visitou dez países em campanha por Azevêdo. O número um do Itamaraty para África e Oriente Médio, Paulo Cordeiro, por sua vez, distribuiu cartas do chanceler Antonio Patriota durante cúpula da União Africana em janeiro na Etiópia.

O Brasil recebeu o apoio quase integral dos países africanos, que respondem por 42 votos dos 159 na OMC.


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