Folha de S. Paulo


Jordaniano criado no Brasil ensina jiu-jítsu para o Exército de seu país

O jordaniano Zaid Mirza, 34, tem uma missão. Ele recebeu do rei Abdullah 2º a tarefa de treinar o Exército e a polícia em uma arte marcial que aprendeu nos anos 1990, distante do clima árido da capital da Jordânia, Amã --o jiu-jítsu brasileiro.

Filho do então embaixador Azmi Mirza, o faixa preta cresceu em Brasília entre 1986 e 2000, onde se apaixonou não só pelo jiu-jítsu, mas também pelo futebol, que lhe serviu de apoio para se adaptar à nova cultura. "Foram os melhores anos da minha infância", diz à Folha.

Hoje, os departamentos de segurança da Jordânia treinam a modalidade de jiu-jítsu que Mirza aprendeu com o campeão mundial Cassio Werneck nos anos 1990, de quem recebeu a faixa preta.

"O rei Abdullah é muito ligado ao seu Exército. Está sempre procurando o melhor sistema de treinamento."

O monarca é tido como um fã de jiu-jítsu brasileiro e também de MMA. Desde março, a relação de Mirza com o monarca é também de família. Ele acaba de voltar da lua de mel com a princesa Iman Bint al Hussein, irmã de Abdullah.

22.mar.2013/Arquivo pessoal
Zaid Mirza (à esq.), que cresceu no Brasil, a princesa jordaniana Iman Bint Hussein (centro) e o rei Abdullah 2º (à dir.)
Zaid Mirza (à esq.), que cresceu no Brasil, a princesa jordaniana Iman Bint Hussein (centro) e o rei Abdullah 2º (à dir.)

"Conheci a princesa por meio da família. Ela é amiga de primos meus, e eu sou amigo dos irmãos dela. Não teve namoro. Fomos direto para o noivado e casamento. Coisa de filme dos anos 50."

Antes do jiu-jítsu, Mirza havia praticado caratê, tae kwon-do e judô. "Não parei até hoje. Introduzi o esporte na Jordânia e espalho pelo mundo árabe."

Em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes, o jiu-jítsu brasileiro é ensinado nas escolas. Na Jordânia, Mirza estabeleceu, a pedido do regime, um programa de cinco anos de duração, que inclui a formação de treinadores.

Foi criada uma equipe de jordanianos que, hoje, ensina as técnicas do jiu-jítsu brasileiro --como uma série de movimentos de imobilização-- durante os treinamentos de policiais e soldados. "O jiu-jítsu brasileiro é o mais completo, eficaz e esportivo", diz Mirza. "É uma luta de defesa pessoal inventada para que o mais fraco possa vencer o mais forte."

HISTÓRICO

O jiu-jítsu do Brasil é uma modalidade ligada à família Gracie, que criou as bases desse esporte nos anos 1920. É por isso conhecido, também, como "Gracie jiu-jítsu". O foco são as técnicas de solo e de controle do oponente, dando menos ênfase aos golpes aplicados pelos lutadores enquanto estão de pé.

As táticas do jiu-jítsu brasileiro são em geral usadas também no MMA (sigla em inglês para Artes Marciais Mistas), o antigo vale-tudo --também ensinado ao Exército jordaniano, hoje, como parte do treinamento.

Para Mirza, o Brasil é o "berço da luta moderna", razão pela qual os lutadores brasileiros figuram nos rankings mundiais. Daí o convite do rei Abdullah para que ele treinasse a segurança do reino nessa modalidade.

EMPRESÁRIO

Além da consultoria para o Exército, Mirza fundou a Desert Force, que ele diz ser a primeira organização árabe de MMA, hoje com 106 lutadores. Ele tem parceria com a rede de televisão árabe MBC e planeja um novo reality show de MMA e de futebol.

A estreia de um programa de Mirza na MBC teve audiência estimada em 25 milhões de espectadores. "Eu já trouxe muitos lutadores e professores brasileiros para o mundo árabe, pois tenho muito carinho pelo país."

Hoje, o Desert Force busca criar uma cultura de lutadores árabes. Em 2014, volta a contratar profissionais de outros países. Entre os lutadores do Desert Force estão nomes como Hashem Arkhagha (Jordânia), Ibrahim Elsawi (Egito), Karim Khalifa (Tunísia) e Mahmoud Salama (Egito).

Além do Desert Force, Zaid possui uma rede de academias no mundo árabe e também de restaurantes em Amã.


Endereço da página: