Folha de S. Paulo


Sírios produzem máscaras após suspeitas de uso de armas químicas

Abu Tareq não é engenheiro, mas, com informações obtidas na internet e as recordações do período de serviço militar, fabrica máscaras de gás depois que ganharam força as suspeitas de que o Exército sírio utilizou armas químicas.

O presidente americano, Barack Obama, prometeu nesta sexta-feira (26) uma "investigação definitiva" sobre a possível utilização de armas químicas na Síria e advertiu Damasco que tal uso "mudaria as regras do jogo" do conflito.

De acordo com Washington, Damasco "provavelmente" usou armas químicas em "pequena quantidade", mas as informações não são suficientes para ter certeza de que a Síria cruzou a "linha vermelha" traçada por Obama.

Com uma garrafa, carvão em pó e um algodão molhado com Coca-Cola, Abu Tareq, um rebelde de 72 anos membro de uma brigada da província de Latakia --região natal do ditador Bashar Assad e reduto da minoria religiosa alauita--, começa a demonstração.

Com a garrafa recortada a dez centímetros da tampa, ele faz um buraco para permitir a passagem do ar e depois preenche o recipiente com algumas colheradas de carvão em pó e um pedaço de algodão molhado com refrigerante para cobrir o outro extremo. Depois, passa um elástico ao redor da cabeça e respira.

Tareq reconhece que a máscara artesanal não protege durante muito tempo contra os gases letais e corrosivos que podem afetar a pele, mas destaca que é melhor do que um lenço molhado e que pode salvar vidas, por permitir que alguém abandone um local com muita fumaça nos primeiros minutos após um ataque químico.

Sem apoio militar internacional, as brigadas Ezz ben Abdel Salem, pelas quais Abu Tareq combate, preferiram se antecipar diante a intensificação das denúncias que, conforme os rebeldes, antecipam um ataque químico.

Os insurgentes receberam a notícia do isolamento de cinco vilarejos de maioria alauita ligados à frente, a dezenas de quilômetros da cidade de Latakia, e também que o Exército distribuiu aos soldados máscaras de gás. A informação não pôde ser confirmada com uma fonte independente, já que o regime de Damasco restringe o acesso da imprensa internacional às zonas sob seu controle.

"A retirada é a prova de que algo importante está sendo preparado", disse Abu Basir, líder das brigadas Ezz ben Abdel Salem.

Helicópteros do regime continuam usando suas armas e lançando barris com explosivos, enquanto entre os rebeldes existe o temor de que o Exército utilize a mesma técnica para lançar uma bomba química.

"Se o uso de armas químicas químicas for comprovado e seus aliados apoiarem uma intervenção de qualquer tipo, o governo Obama terá que responder a esta enorme provocação do regime sírio", disse Mona Yacubian, do Stimson Center, um centro de estudos sobre o Oriente Médio com sede em Washington. "Se as acusações forem comprovadas, a linha vermelha terá sido ultrapassada", completou.


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