Folha de S. Paulo


Presidente da Itália convoca líder da esquerda para tentar formar governo

O presidente da Itália, Giorgio Napolitano, convocou nesta quarta-feira o vice-líder do Partido Democrático, Enrico Letta, para formar um governo de coalizão no país. A chamada é a quarta tentativa do mandatário para dar fim ao impasse político que dura dois meses.

A crise política começou após a eleição parlamentar de fevereiro, quando nenhum dos maiores partidos obteve maioria para formar um governo próprio. Desde então, Napolitano tenta formar uma coalizão com duas das três forças políticas majoritárias, até o momento sem sucesso.

Alberto Pizzoli/AFP
Vice-líder do Partido Democrático, Enrico Letta é chamado pelo presidente Giorgio Napolitano para formar governo na Itália
Vice-líder do Partido Democrático, Enrico Letta é chamado pelo presidente Giorgio Napolitano para formar governo na Itália

Em entrevista após o encontro, Letta disse que aceitou a proposta, reconhecendo a responsabilidade e as dificuldades que terá para recuperar o país da crise econômica e a credibilidade dos partidos políticos. Porém, pediu tempo para conseguir apoios e dar sua resposta definitiva, o que deve acontecer nos próximos dias.

Para conseguir ser nomeado como primeiro-ministro, o líder político precisa conseguir o apoio da maioria dos integrantes do Parlamento, dominado pela coalizão de centro-esquerda liderada por seu partido na Câmara e pela centro-direita no Senado.

Ao nomear Letta, a intenção do chefe de Estado é formar um governo com integrantes da centro-esquerda, liderada pelo Partido Democrático, e da centro-direita, comandada pelo Povo da Liberdade, do ex-premiê Silvio Berlusconi.

A proposta foi feita na sua posse para um novo mandato de sete anos como presidente, na segunda (22). A reeleição de Napolitano também foi um dos exemplos do impasse, já que os partidos não conseguiram consenso para sugerir outro nome.

A convocação acontece um dia depois de Letta dizer que seu partido estava disposto a apoiar um governo que levasse em consideração a "emergência econômica e social" e que realizasse as reformas pendentes, entre elas a redução do grande número de parlamentares.

A dúvida que permanece é a característica do governo que o escolhido deverá compor --temporário, formado por políticos ou de caráter mais técnico e institucional. Ele substituiu Pier Luigi Bersani, ex-líder do Partido Democrático, que não conseguiu consenso para formar governo.

RENOVAÇÃO

O gesto de Napolitano foi apoiado por muitos por significar um supro de renovação na política italiana. Enrico Letta tem 46 anos, mas já foi deputado europeu, três vezes ministro e subsecretário da Presidência durante o governo de Romano Prodi (2006-2008). Ele é considerado de tendência moderada.

Outro ponto que o favorece é o apoio do Povo da Liberdade e do Escolha Cívica, do atual primeiro-ministro Mario Monti e quarto colocado no pleito parlamentar. Ele também é sobrinho de Gianni Letta, ex-braço direito de Silvio Berlusconi, o que contribuiu para o apoio da centro-direita.

Assim como em outras tentativas de formação de governo, o Movimento Cinco Estrelas, do ex-comediante Beppe Grillo, terceira força política do país, disse que não apoiará o novo governo. Em outras ocasiões, o partido pediu que fosse encarregado de administrar o país, mesmo não tendo apoio dos demais partidos.

Caso seja escolhido, Letta terá que lidar com a forte crise econômica italiana, onde 11,8% da população está desempregada, sendo que, entre os jovens, o índice chega a 37,8%. Ele será o responsável por avaliar a política econômica no país, que é um dos mais afetados pela crise na zona do euro.


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