Folha de S. Paulo


Ativista afirma que eleição no Irã não será livre nem justa

Para o iraniano Hadi Ghaemi, 45, diretor-executivo da ONG Campanha Internacional por Direitos Humanos no Irã, as eleições presidenciais de junho no país não podem ser consideradas "livres ou justas de qualquer maneira".

O quadro político, portanto, é bastante diferente do que ocorreu nas eleições de 2009, quando havia dois candidatos reformistas na disputa --que garantiu a reeleição de Mahmoud Ahmadinejad e resultou em protestos motivados por suspeitas de fraude no resultado, coibidos com violência pelo governo.

"Há quatro anos, tivemos eleições competitivas, com Mussein Houssavi e MehdiKairubi na oposição. Hoje, estão em prisão domiciliar, sem que haja qualquer acusação contra eles. A elite política se torna menor e menor a cada dia", afirma Ghaemi.

Enquanto isso, o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do regime, se torna cada vez mais um ditador com plenos poderes, segundo o ativista, e se assemelha a um rei.

"A República Islâmica do Irã não é mais uma república, porque Khamenei controla tudo de perto, tampouco islâmica, porque a religião prega a paz, e não a violência e as execuções que o regime vem cometendo."

Mesmo assim, com a censura em alto nível e liberdades "praticamente inexistentes", deixando parte da população apática e distante do jogo eleitoral, Ghaemi avalia que há potencial para novos protestos e conflitos nas eleições de 14 de junho.

O ativista avalia que a disputa será "uma guerra interna", já que Ahmadinejad se distanciou de Khamenei e aderiu a uma retórica mais reformista, para agradar à classe média e tentar eleger o seu sucessor no poder.
Seu candidato, porém, precisará ser previamente aprovado pelo Conselho dos Guardiões, que supervisiona as eleições e é controlado pelo líder supremo.

A aprovação prévia dos candidatos, na opinião de Ghaemi, pode afastar o ex-presidente Mohammad Khatami (1997-2005) de concorrer novamente ao cargo como representante reformista.

O ativista, que reside em Nova York, esteve em São Paulo na semana passada para participar de palestra a estudantes de relações internacionais sobre requisitos de um "player global" na área de direitos humanos --e criticou o comportamento do governo brasileiro à Folha.

"Estou decepcionado com o Brasil. Lula não fez muito por nós, e seu abraço em Ahmadinejad foi um momento chocante. Dilma, que antes da posse afirmou categoricamente apoiar os direitos humanos, infelizmente continua a se abster em resoluções da ONU sobre o país. O Irã não é só o regime", avalia.

Para Ghaemi, o Brasil pôde experimentar de forma direta a forma do regime de escapar das pressões externas.

"Quando o diplomata iraniano foi acusado de molestar meninas em uma piscina em Brasília, no ano passado, a primeira reação das autoridades foi dizer que isso era devido a 'diferenças culturais'. Sempre que pressionados na arena internacional em temas como tortura, execuções, repressão a minorias, recorrem a esse argumento."

Ghaemi crê que o Ocidente deve investir mais em diplomacia, com opções mais criativas, para resolver os problemas iranianos, inclusive na questão nuclear.


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