Folha de S. Paulo


Governo brasileiro ainda não reconheceu novo presidente do Paraguai

O Brasil é o único membro do Mercosul que ainda não reconheceu oficialmente o novo presidente do Paraguai, o colorado Horacio Cartes. O país está suspenso do bloco desde junho passado, após o contestado impeachment-relâmpago de Fernando Lugo.

Até a Venezuela, que entrou no país depois do bloco reconheceu Cartes como presidente. O mandatário venezuelano, Nicolás Maduro, disse que parabenizou Cartes e espera a volta da democracia no país e que o novo governo "retome o caminho da democracia e da justiça social".

Em seu Twitter, a presidente argentina, Cristina Kirchner, felicitou na noite de ontem o colorado e disse "esperá-lo no Mercosul".

"Seu lugar está ali no Mercosul junto a todos nós, como sempre", disse Cristina. "De novo estamos completos na América do Sul. É preciso."

Ela disse ter telefonado para o novo presidente paraguaio na noite de domingo. "Do outro lado da linha, escuto a voz de Horacio Cartes saudando-me com muita alegria", afirmou.

O presidente uruguaio, José Mujica, também telefonou para o vizinho. Segundo um comunicado da Presidência, Mujica convidou Cartes para a próxima cúpula do Mercosul, que será em junho, em Montevidéu. Disse ainda que pretende estar na posse do colorado.

"É muito importante que se tenham celebrado estas eleições com normalidade e que o país-irmão viva a democracia em sua plenitude", disse Mujica, segundo o comunicado.

Procurado pela Folha, o Planalto não soube precisar se a presidente Dilma Rousseff teria telefonado para o paraguaio na noite de domingo. Nenhum pronunciamento oficial, contudo, foi feito -nem pelo Planalto, nem pelo Itamaraty.

O candidato colorado venceu com 45,8% dos votos, contra 36,9% obtidos pelo liberal Efraín Alegre, do partido do presidente Federico Franco.

CONVERSAS

Segundo a Folha apurou, o governo brasileiro já vinha mantendo conversas com Cartes sobre o retorno do país ao Mercosul e temas bilaterais. Diplomatas se encontraram com os candidatos colorado e liberal para se inteirar de suas agendas em assuntos de interesse do país.

Cartes já era visto pelos brasileiros como uma opção de menos conflito em temas sensíveis na relação, como a usina de Itaipu. Ontem, ele se disse disposto a trabalhar com o "país-irmão". "O Paraguai tem tudo para sentar à mesa com o Brasil, um país-irmão, pra trabalhar junto."

O governo brasileiro convocou de volta seu embaixador em junho, em represália à saída de Lugo, e possivelmente só apresentará as credenciais do novo representante ao governo de Cartes, que assume em agosto.

O colorado, que fala português, tem grande afinidade com os chamados "brasiguaios", em sua maioria, produtores de soja, e de quem ele tinha o apoio na eleição. Estima-se que 400 mil brasileiros vivam no país.

Pairam sob Cartes acusações de ligação com narcotráfico e lavagem de dinheiro. Seu nome também é citado no relatório da CPI da Pirataria, de 2004, pelo envolvimento da sua empresa Tabesa no contrabando de cigarros para o Brasil. Cartes nega tudo.

Segundo a Folha mostrou em reportagem publicada em janeiro, autoridades que atuam no controle de tabaco temem que o Paraguai afrouxe ainda mais as políticas antitabagistas com um governo de Cartes. A marca Eight, produzida pela Tabesa, é uma das mais contrabandeadas para o Brasil.

As eleições eram a primeira condição dos países do Mercosul para o retorno do Paraguai ao bloco. Não se sabe se os vizinhos vão esperar a posse de Cartes para retirar a suspensão, ou se já o farão na cúpula de Montevidéu, em junho. A decisão, porém, pode vir ainda antes disso.

Editoria de Arte/Folhapress

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