Folha de S. Paulo


Candidato colorado diz que Paraguai deve conversar com o 'país-irmão' Brasil

O candidato colorado à Presidência no Paraguai, Horacio Cartes, disse que o país tem tudo para voltar a dialogar com o Brasil, um "país-irmão".

"A gente quer trabalhar com o Brasil. O Paraguai tem tudo para sentar à mesa com o Brasil, um país-irmão, pra trabalhar junto", disse Cartes, durante coletiva de imprensa na manhã deste domingo (21), em Assunção.

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"Temos a maior hidrelétrica do mundo com o Brasil, e hoje temos muitas indústrias do país --o que acho que está sendo muito bom para o Brasil, porque elas estão produzindo com o custo da energia daqui", disse.

Jorge Adorno/Reuters
Horacio Cartes, presidenciável do Partido Colorado, mostra seu polegar com tinta após votar em Assunção na manhã de hoje
Candidato à Presidência pelo Partido Colorado, Horacio Cartes mostra seu polegar com tinta após votar pela manhã em Assunção

O governo brasileiro suspendeu suas relações políticas de alto nível com o Paraguai logo após o impeachment-relâmpago de Fernando Lugo, em 22 de junho de 2012, rompimento político reafirmado com a suspensão do país do Mercosul.

No dia seguinte à destituição do ex-presidente, o então embaixador brasileiro no país, Eduardo dos Santos, foi convocado pelo Itamaraty para dar explicações e não voltou mais a Assunção desde então.

Santos foi promovido a secretário-geral do Itamaraty no início deste ano, e o governo brasileiro, segundo a Folha apurou, só deverá entregar as credenciais de seu novo embaixador ao próximo governo --que assume em agosto.

Segundo o presidente Federico Franco, o Brasil também está sem embaixador paraguaio desde a gestão Lugo, já que o encarregado anterior voltou e as credenciais não foram apresentadas ao governo brasileiro depois da suspensão do país do Mercosul.

Editoria de Arte/Folhapress
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ENERGIA DE ITAIPU

Cartes, no entanto, se negou a comentar se pretende renegociar o preço da energia de Itaipu vendida ao Brasil. Para ele seria "muito irresponsável" falar de preços neste momento.

À Folha, o candidato liberal Efraín Alegre, seu principal opositor, disse pretender rever os valores. "Enquanto estivermos cedendo energia, vamos discutir preço", disse Alegre, em entrevista na terça-feira (26).

O tratado de Itaipu prevê que cada lado fique com 50% da energia. Como o Paraguai só consome aproximadamente 9% do total, vende o restante de sua quota ao Brasil por US$ 8,40 cada MW/h.

O governo brasileiro argumenta que é preciso somar a esse valor o chamado "custo da energia garantida" (referente à dívida da usina e gastos de manutenção), de US$ 43,7 por MW/h, que também é pago pelo Brasil --mas não vai para o caixa paraguaio.

O valor médio pago em leilões de energia no Brasil entre 2004 e 2011 foi de US$ 61 para cada MW/h.

MERCOSUL

Segundo Franco, também há uma predisposição de sua parte a retornar, o quanto antes, ao Mercosul. "Hoje as fronteiras caíram e há a necessidade que os países estejam todos integrados."

Alegre também defende que o país volte ao bloco. "O Mercosul é importante para o Paraguai, assim como o Paraguai é importante para o Mercosul. A partir de 21 de abril, o nosso esforço será restabelecer a normalidade do bloco, pelos caminhos dos tratados", disse na mesma entrevista.

Fontes consultadas pela Folha consideram que Cartes está menos "disposto" que Alegre a comprar briga com o governo brasileiro pela energia de Itaipu ou para modificar termos do tratado.

O liberal também seria uma opção mais complicada em relação ao Mercosul, já que, como o colega de partido, o presidente Federico Franco, considera "condições" na volta do Paraguai ao bloco --como a possibilidade de acordos de livre comércio com outros países fora do bloco.

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