Folha de S. Paulo


Para Brasil, candidato colorado no Paraguai trará menor conflito

Em dois temas bastante sensíveis na sua relação com o Paraguai --a usina de Itaipu e o retorno do país ao Mercosul--, o governo brasileiro vê no candidato colorado à presidência, Horacio Cartes, uma opção que representaria menos conflito do que seu principal opositor nas eleições de amanhã, o liberal Efraín Alegre.

Para fontes consultadas pela Folha, o conservador Cartes, que lidera a maioria das pesquisas de intenção de voto (apesar de elas não serem termômetro confiável), parece ser menos "disposto" a comprar briga pela energia de Itaipu vendida pelo Paraguai ao Brasil ou para modificar termos do tratado.

O tema nem entrou na campanha do colorado.

Editoria de arte/Folhapress

Alegre, contudo, repete a retórica do presidente Federico Franco, também liberal, de que o Paraguai deve parar de "ceder" ao Brasil a energia que não utiliza.

Segundo o tratado da usina, cada um dos países tem direito a 50% da produção. O Paraguai, no entanto, só usa 9% da energia gerada pela hidrelétrica. O acordo prevê que o Paraguai venda ao Brasil o que não consegue usar.

Em relação ao Mercosul, do qual o Paraguai foi suspenso em junho passado após o contestado impeachment de Fernando Lugo, Cartes também não tem o discurso inflamado do concorrente, na opinião dos brasileiros.

Alegre segue a linha do colega de partido Franco, considerando "condições" na volta do Paraguai ao bloco, como a possibilidade de acordos de livre comércio com outros países fora do bloco.

Em Brasília, no entanto, há uma preocupação com uma possível vitória de Cartes.

Segundo a Folha mostrou em reportagem publicada em janeiro, autoridades que atuam no controle de tabaco temem que o Paraguai afrouxe ainda mais as políticas antitabagistas com um governo de Cartes -- sócio da empresa de cigarros Tabesa, dona da marca Eight, uma das mais contrabandeadas ao país.

Em relação à comunidade de cerca de 400 mil "brasiguaios", tanto Cartes como Alegre são vistos como políticos que garantirão a segurança jurídica das terras de quem está regular.

Assim que Franco assumiu o poder após a queda de Lugo, o Brasil convocou seu então embaixador, Eduardo dos Santos, suspendendo as relações políticas com o país.

Agora o governo considera enviar um novo embaixador só depois que o próximo governo assumir, em agosto.

A realização das eleições de amanhã foi colocada pelo Brasil e pelos outros integrantes do Mercosul como primeira condição para atestar a volta da "vigência democrática" ao país. Teria sido a "quebra" dessa vigência que levou à suspensão do país.


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