Folha de S. Paulo


EUA e Brasil divergem sobre resultado de eleição da Venezuela

A diplomacia brasileira e americana explicitaram nesta quarta-feira (17) divergências em relação aos próximos passos do processo eleitoral na Venezuela. O ministro Antônio Patriota (Relações Exteriores) e a embaixadora dos Estados Unidos na ONU (Organização das Nações Unidas), Susan Rice, divergiram, lado a lado, sobre a legitimidade das eleições venezuelanas, que elegeram no último domingo (14), por apertada margem de votos, o chavista Nicolás Maduro.

A situação é tensa na Venezuela desde a proclamação do resultado pelo Conselho Eleitoral, no último domingo. Na terça (16), sete pessoas morreram após confrontos entre forças oposicionistas e apoiadores de Maduro. O Brasil já havia reconhecido o resultado das eleições, inclusive com telefonema da presidente Dilma Rousseff a Nicolás Maduro. Os Estados Unidos defendem a recontagem de votos, como deseja a oposição venezuelana.

Afirmando respeitar a "soberania venezuelana", Patriota disse ser contra a recontagem de votos, a não ser que essa seja uma decisão interna das autoridades que comandam o sistema eleitoral da Venezuela. É isso que pleiteiam os partidários do oposicionista Henrique Capriles, derrotado por menos de 2% de diferença e que afirma a existência de fraudes.

"A manifestação do Conselho Eleitoral venezuelano precisa ser respeitada. É nesse sentido que os líderes sul-americanos têm se manifestado", disse Patriota. "É algo que está a cargo da própria autoridade eleitoral, e das autoridades venezuelanas. Nós respeitamos a soberania venezuelana, são questões internas. A missão de acompanhamento eleitoral da Unasul se manifestou, dizendo que os resultados devem ser respeitados. Na medida em que haja uma decisão interna de recontagem, não teremos nada contra. Acho que pode ser algo que contribua para consolidar os resultados."

Ao seu lado, na coletiva de imprensa realizada no Palácio do Itamaraty, em Brasília, Susan Rice reafirmou a posição do governo americano: uma recontagem asseguraria um resultado aceitável para todos os venezuelanos. Rice também manifestou preocupação do governo americano com os episódios de violência que se seguiram à divulgação do resultado.

"Nós sabemos que a eleição foi muito, muito apertada. E que a oposição, e que, de fato, o presidente [Maduro] indicou um desejo por uma auditagem completa do resultado, de forma a assegurar que ele fosse aceitável por todos os venezuelanos. Nós ainda pensamos que esse é um caminho inteligente e reforçaria a confiança no resultado para além da fronteira, além de contribuir para frear a instabilidade de segurança", disse a embaixadora americana na ONU.


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