Folha de S. Paulo


Análise: Ação de Capriles põe seu capital político em jogo

Fortalecido após a votação de anteontem, o oposicionista Henrique Capriles colocou seu recém-aumentado capital político em jogo ao acusar fraude. Agora, terá a difícil missão de provar irregularidades num país onde as instituições estão cooptadas pelo governo.

A oposição registrou cerca de 3.200 irregularidades nos centros eleitorais, principalmente envolvendo intimidações e utilização de documentos falsos. Uma investigação de casos assim seria mais política do que técnica, com claro favorecimento a Nicolás Maduro. A alteração do resultado é altamente improvável e traz o risco de desestimular novamente eleitores oposicionistas a votar.

Sob o chavismo, as eleições venezuelanas vêm tendo dois momentos distintos. Na campanha em si, os governistas fazem amplo uso da máquina do Estado, desde empregar recursos públicos em mobilizações até o uso parcializado dos meios de comunicação públicos. Por outro lado, as urnas são confiáveis do ponto de vista técnico.

Em 2005, alegando falta de confiança no sistema eleitoral, a oposição boicotou as eleições parlamentares e acabou presenteando o chavismo com a Assembleia Nacional (Congresso). A oposição admitiu o erro e voltou a disputar e ganhar eleições, retomando governos estaduais e municipais até chegar à ampla votação de Capriles.

Capriles pode estar apostando num enfraquecimento precoce do mandato de Maduro ao incentivar protestos nas ruas. O chavismo costuma responder a essas mobilizações com manifestações e o uso desproporcional de suas forças policiais. É grande o risco de violência nos próximos dias.

O cenário político acirrado, aliado às mazelas econômicas e à criminalidade fora de controle, torna incerto o futuro próximo da Venezuela. Mas há mais argumentos para previsões pessimistas do que para otimismo.


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