Folha de S. Paulo


Brasil se surpreende com vitória apertada e prevê largada difícil

O governo brasileiro não espera desfecho diferente em uma eventual recontagem dos votos na Venezuela, e até vê na medida uma forma de fortalecer o presidente eleito, Nicolás Maduro. A avaliação, contudo, não esconde a surpresa do governo Dilma Rousseff com o placar apertado: uma diferença de apenas 1,6 ponto percentual.

A previsão interna é de uma largada mais difícil para Nicolás Maduro, e de uma certa fragilização do herdeiro de Hugo Chávez em detrimento da força conquistada pelo rival Henrique Capriles, hoje a principal alternativa de poder em Caracas. O presidente interino teve 50,66% dos votos, contra 49,07% do adversário.

Segundo a Folha apurou, a presidente Dilma Rousseff telefonará para o presidente eleito por volta do meio dia. O chanceler brasileiro, Antônio Patriota, deve fazer um pronunciamento nesta segunda-feira parabenizando a vitória. A aposta é por uma "transição suave", e o desejo das autoridades brasileiras é que Maduro resgate o perfil conciliador visto nos tempos em que era chanceler.

Para integrantes do Executivo brasileiro, o chavismo precisa interpretar o resultado como um sinal inequívoco sobre a necessidade de uma mudança mais para o centro, com repactuação do governo com a classe média e medidas para solucionar a crise na área de segurança pública, um dos principais anseios da população.

Na visão da diplomacia de Dilma Rousseff, Maduro precisa adotar uma linha mais aberta, menos sectária, para unificar sua própria base e governar com tranquilidade.

O Brasil continuará ajudando o aliado. Além da proximidade histórica do PT com o chavismo, o país tem interesses comerciais crescentes, e via a vitória de Capriles como trampolim para um realinhamento econômico com os Estados Unidos. Sob Hugo Chávez, o Brasil intensificou sua presença comercial na Venezuela e teme perder essa influência para o hemisfério Norte.

Para o Palácio do Planalto, tanto Maduro quanto Capriles têm desafios pela frente. Enquanto o primeiro precisa reverter questionamentos à sua liderança, Capriles terá de sobreviver politicamente até 2019, além de conter os oposicionistas mais radicais para não perder o capital eleitoral conquistado nas urnas.

"Maduro vai conseguir refletir e corrigir alguns rumos do chavismo? Capriles vai apostar na radicalização? Essa novela não acabou ontem. Vamos ver quem pisca primeiro", indagou um integrante do governo brasileiro.

Internamente, não há dúvidas sobre o resultado da eleição. Diplomatas afirmam que o sistema eleitoral da Venezuela é seguro. Dizem que lá há controle biométrico e que a urna eletrônica reproduz, em papel, todos os votos, possibilitando a recontagem.


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