Folha de S. Paulo


Com vitória apertada, Nicolás Maduro é eleito presidente da Venezuela

Na primeira vitória do chavismo sem Hugo Chávez, a Venezuela elegeu neste domingo (14) o ex-sindicalista Nicolás Maduro, 50, para governar o país até 2019 com menos de 1,6 ponto percentual de diferença do segundo colocado, Henrique Capriles.

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Esta foi a primeira vez desde 2005 que os opositores questionavam os números dos CNE (Conselho Nacional Eleitoral), a quem acusam de favorecer o governo, antes dos resultados, num desdobramento que pode mergulhar o país numa grave crise política pouco mais de um mês após a morte de Chávez, vítima de um câncer em março.

Segundo o CNE, com 99,1% das urnas apuradas, Maduro, indicado por Chávez como sucessor, obteve 50,66% dos votos (7.505.338 votos) contra 49,07% (7.270.403 votos).

Pouco após o anúncio do resultado, Capriles afirmou que não reconhece a vitória de Maduro e que exige uma recontagem dos votos.

"Não vamos reconhecer o resultado até a recontagem de cada um dos votos dos venezuelanos, um por um. Exigimos do CNE que abram todas as urnas e que cada voto seja recontado", afirmou Capriles em entrevista coletiva.

O reitor Vicente Diaz, o único do CNE próximo da oposição, também pediu a auditoria de 100% dos votos --em geral acontece com apenas metade.

Em discurso feito logo depois do anúncio do resultado, em frente ao Palácio Miraflores, Maduro disse que confia no sistema eleitoral da Venezuela e que o resultado deve ser respeitado.

Ele pediu que a oposição aceite os resultados sem arrogância. Diante de um possível pedido de auditoria, ele pediu que o procedimento seja feito, "para que não fique dúvida dos resultados".

"Vamos construir um governo poderoso, do povo e vamos construir uma nova, ampla e poderosa maioria da revolução bolivariana."

A jornada eleitoral, que foi tranquila, encerrou com alta tensão política devido às declarações de vitória antecipadas tanto pela campanha de Maduro, como pelos aliados de Capriles.

Mais cedo, Capriles, em sua conta de Twitter, fez sua mais grave acusação contra o CNE (Conselho Nacional Eleitoral) ao afirmar que estariam permitindo votos após o encerramento de mesas.

"Alertamos ao país e ao mundo a intenção de querer mudar a vontade expressada pelo povo", escreveu Capriles no Twitter, pedindo a reprodução da mensagem.

"Sigo recebendo resultados de todo país! Como mudaram as coisas desde 7 de outubro", chegou a comemorar o opositor em referência a disputa contra o então presidente Hugo Chávez, quando perdeu por 44% contra 55% dos votos.

O resultado foi uma reviravolta em relação ao cenário previsto pelas pesquisas de opinião, que davam margem de ao menos oito pontos a favor de Maduro, apesar de advertir que Capriles vinha diminuindo a vantagem na última semana.

O ex-chanceler Maduro começou a corrida eleitoral no mês passado como franco favorito, embalado pelo ambiente de comoção no país pela morte de Chávez.

Nem o governo nem o próprio candidato hesitaram em transformar os atos em odes político-religiosas ao esquerdista, chamado de "Cristo Redentor dos pobres". Já Capriles, mais experiente em sua segunda disputa nacional, arriscou ao mesclar duros ataques ao governo com promessa de reconciliação do país.

POR CHÁVEZ

Maduro seguiu sua estratégia de apresentar o voto em sua candidatura como cumprimento do "último desejo" de Chávez, algo repetido pela maioria de seus eleitores ontem em Caracas.

O ex-chanceler foi votar acompanhado da mulher, a também dirigente chavista Cília Flores, e da família do mandatário morto.

Num discurso inusual para um chavista, o mandatário interino prometeu fortalecer a economia atraindo investimentos, incluindo os externos, "para desenvolver a indústria mista, pública e privada, pequena, média e grande".

Capriles, 40, que se reelegeu governador de Miranda em dezembro, votou em Las Mercedes, região abastada de Caracas.


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