Folha de S. Paulo


Itália não forma coalizão e cai em labirinto político

Trinta e um dias depois de se declarar vencedor das eleições da Itália, o líder do PD (Partido Democrático), Pier Luigi Bersani, admitiu na noite de quinta-feira ter fracassado na busca por apoio para formar um novo governo no país.

O político de centro-esquerda fez o anúncio num pronunciamento breve, de 1m04s, após relatar ao presidente Giorgio Napolitano o fiasco nas negociações com os outros partidos.

Tony Gentile/Reuters
Líder da centro-esquerda italiana, Pier Luigi Bersani se prepara dizer que deixou a negociação para formar governo no país
Líder da centro-esquerda italiana, Pier Luigi Bersani se prepara dizer que deixou a negociação para formar governo no país

O semblante abatido de Bersani falou mais que suas palavras: ele continua longe de virar primeiro-ministro, e a Itália segue em situação de ingovernabilidade, sem uma solução à vista.

Na manhã desta sexta, Napolitano, 87, deve assumir a frente das negociações e iniciar uma nova rodada de conversas com os líderes políticos. De acordo com a lei italiana, uma nova eleição só poderá ser convocada em meados de maio, depois que seu mandato terminar.

Entre os desfechos possíveis até lá, estão a nomeação de um novo governo tecnocrático, sem ligação direta com os principais partidos, e a permanência do primeiro-ministro Mario Monti, que ficou com apenas 10% dos votos na disputa de fevereiro.

Editoria de arte/Folhapress

Encarregado por Napolitano de formar um novo governo, Bersani fracassou nas duas frentes de negociação: com o PdL (Partido Povo da Liberdade) de Silvio Berlusconi, de centro-direita, e com o M5S (Movimento Cinco Estrelas) do comediante Beppe Grillo, de linha anarquista.

Ele dependia de um acordo com ao menos uma das legendas para obter o voto de confiança necessário para instalar um novo governo. O líder de centro-esquerda disse que as negociações não tiveram "resultado conclusivo" e reclamou de "recusas" e "condições inaceitáveis" impostas pelos rivais.

De acordo com a imprensa italiana, Berlusconi condicionou o apoio ao poder de indicar o vice-premiê e o próximo presidente, que substituirá Napolitano em maio. O ex-primeiro-ministro fez as exigências ao mesmo tempo em que tenta se defender de novas acusações de corrupção e crimes fiscais.

Grillo, que contesta os partidos tradicionais e já chamou Bersani de "morto que fala", voltou a rechaçar um acordo com ele na quarta (27).

Ele debochou do impasse em seu blog. Escreveu que o Parlamento italiano é dominado por um "exército de soldadinhos de chumbo sem voz", à exceção de seus aliados do M5S, e sugeriu que o país continue sem governo.

Com os poderes esvaziados, o primeiro-ministro Mario Monti voltou a reclamar da própria situação nesta semana e declarou que não vê a hora de deixar o cargo.

NÚMEROS

A coligação de Bersani obteve uma pequena vantagem na corrida à Câmara dos Deputados, com 29,5% dos votos. Ganhou 54% das cadeiras, graças a um bônus previsto pela lei eleitoral, mas não tem maioria no Senado.

Pelo sistema italiano, essas condições são insuficientes para governar sem o aval dos partidos adversários. A coligação de Berlusconi teve 29,2% dos votos para a Câmara, e a de Grillo, 25,6%.


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