Folha de S. Paulo


Liga Árabe afirma que seus membros têm direito a armar rebeldes sírios

Os chefes de Estado e de governo árabes afirmaram nesta terça-feira em Doha que cada país tem direito a armar a oposição síria e respaldaram uma solução política ao conflito, de acordo com a minuta da resolução final da 24ª cúpula árabe.

O projeto de texto, do qual a "Al Jazeera" antecipou alguns extratos, determina que todos os países árabes têm direito a emprestar "meios de autodefesa" para apoiar o povo sírio e o rebelde Exército Livre Sírio (ELS).

Os membros da Liga Árabe pedem ainda às organizações internacionais que reconheçam a Coalizão Nacional Síria (CNFROS) como "único representante legítimo do povo sírio".

A CNFROS, a principal aliança da oposição, tomou hoje em Doha o assento correspondente a seu país na cúpula árabe, da qual participaram os líderes opositores Ahmed Muaz al-Khatib e Ghassan Hitto e que tem o conflito sírio como tema principal de sua agenda.

Segundo a televisão oficial iraniana em inglês "PressTV", o Irã criticou a Liga Árabe por dar o assento da Síria à oposição na cúpula.

O vice-ministro das Relações Exteriores do Irã para Assuntos Árabes e Africanos, Hussein Amir Abdolahian, qualificou de "precedente perigoso" para o mundo árabe que a "oposição apoiada do exterior" ocupe o lugar do governo nessa organização.

Esse procedimento poderia ser aplicado no futuro a outros membros da organização pan-árabe e "poderia representar o final do papel da Liga Árabe na região", disse o vice-ministro do Irã, país que se considera o principal aliado do governo Sírio no Oriente Médio.

A minuta da cúpula, cuja versão definitiva será divulgada amanhã, pede também uma conferência internacional no marco da ONU para reconstruir a Síria e ressalta que uma solução política é uma prioridade.

Outras informações apontam que os chefes de Estado e de Governo árabes pedirão amanhã que o Conselho de Segurança da ONU emita uma resolução obrigatória de cessar-fogo na Síria, o envio de forças de paz internacionais a esse país e uma conferência de diálogo nacional para a transição síria.

Quanto à causa palestina, outro dos temas da reunião, a Liga Árabe decidiu realizar uma "mini-cúpula" presidida pelo Egito para acelerar o cumprimento da reconciliação interna.

ARMAS QUÍMICAS

A ONU (Organização das Nações Unidas) designou um cientista sueco para investigar as denúncias de uso de armas químicas na Síria.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, nomeou Ake Sellstrom, um veterano de investigações sobre armas no Iraque na década de 1990, para encabeçar as investigações.

De acordo com diplomatas, Ban disse aos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU que eles não estarão autorizados a participar do processo.

A Rússia, principal aliada da Síria, manifestou sua irritação por ter sido excluída.

"Não compartilhamos plenamente com este tipo de atitude, mas a coisa mais importante é que seja uma equipe tão objetiva quanto possível", disse o embaixador russo na ONU, Vitali Churkin.

A Síria pediu na semana passada uma investigação sobre o suposto uso de armas químicas por parte da oposição em Aleppo no dia 19 de março. A França e o Reino Unido pediram também que seja investigada a acusação da oposição de ter usado o mesmo tipo de armamento.

A ONU disse que o "foco inicial" da investigação serão as acusações do governo sírio, e que ainda estão acertando os detalhes da missão.

"Não é uma investigação criminal, é uma missão técnica", disse Martin Nesirky, explicando que os investigadores terão como objetivo determinar "se foram utilizadas armas químicas, e não por quem [foram usadas]".

O conflito na Síria já dura mais de dois anos. A ONU estima que cerca de 70 mil pessoas tenham morrido e mais de um milhão estejam refugiadas em outros países.


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