Folha de S. Paulo


Em Madri, oposicionista do grupo Damas de Branco defende embargo contra Cuba

Em meados de março do ano passado, a cubana Berta Soler, líder das Damas de Branco, foi presa pela polícia de seu país. Exato um ano depois, já fora das grades, ela se libertou do que chama de uma outra prisão, o governo cubano, e, pela primeira vez na vida, deixava a ilha.

Como a blogueira cubana Yoani Sánchez, Berta ganhou passaporte beneficiada pela recente reforma migratória cubana e veio à Europa, onde ficará até abril para uma forte campanha contra o regime de Raúl Castro ao redor do continente.

Embora tenha chorado e embargado a voz várias vezes em seu primeiro ato público fora da ilha, em Madri, a líder das Damas de Branco tem discurso firme contra o governo de seu país.

Em uma semana no continente, ela tomou as rédeas de um movimento para exigir de governantes da União Europeia que não relaxem o embargo do bloco a Cuba, o que os europeus têm considerado fazer nos últimos anos em troca de aberturas progressivas do regime.

Em conversa com a Folha na capital espanhola, sua primeira parada fora da ilha, Berta disse que não há mudanças no regime castrista, pediu mais pulso firme do Brasil nas relações com Cuba e revelou que integrantes das Damas de Branco podem sair candidatas caso se convoquem eleições na ilha.

"A concessão de passaportes não é fruto de mudanças no governo, mas de pressão internacional. Se o embargo [da Europa a Cuba] cair, o governo vai ganhar oxigênio. Eles estão velhos, mas ainda muito aferrados ao poder", disse a cubana à Folha logo após seu primeiro ato público fora da ilha, em uma cerimônia para receber prêmios acumulados às Damas de Branco nos últimos anos.

BATALHA VERBAL

O evento acabou se transformando em um campo de batalha verbal entre cubanos pró-regime que vivem em Madri e ex-presos políticos exilados na Espanha.
Os manifestantes acabaram expulsos.

"É normal que isso aconteça em um pais democrático. Em Cuba, uma vez eu levantei o braço e recebi uma pedrada na cabeça", disse Berta, que se manteve apartada da discussão.
Só mostrou incômodo quando perguntada por uma repórter cubana sobre denúncias de que as Damas de Branco recebem apoio financeiro do governo norte-americano. Ela levantou a voz e interrompeu a jornalista: "a entrevista acabou aqui".

Minutos depois, mais calma, contava que se surpreendeu ao ver como é uma cidade europeia.

"Foi muito doloroso ver o contraste com o meu país. Achei tudo limpo e organizado. Em Havana, os prédios estão todos caindo aos pedaços, só há fome, miséria e pobreza no país", afirmou.

Depois de Madri, a líder das Damas de Branco foi à Polônia e, na semana que vem, seguirá para a Alemanha, onde tem previstas reuniões com ministros. Antes de voltar a Cuba, passará pelo Parlamento Europeu.

Na América, já agenda visitas no Panamá, em Porto Rico e em Honduras. O Brasil, por enquanto, não está na lista, mas Berta contou que quer pedir apoio à presidente Dilma Rousseff.

"Lula foi a Cuba e nunca se reuniu com a dissidência, só ouvia Raúl e Fidel. Dilma tem que dar mais atenção para isso, porque temos uma dissidência preparada e organizada", disse Berta, sinalizando que a candidatura de alguma das Damas de Branco em caso de eleições livres é possível. "Mas ainda não sabemos bem e não pensamos nisso agora".


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