Folha de S. Paulo


BCE dá ultimato a Chipre para solução para obter recursos de resgate

O Banco Central Europeu (BCE) deu um ultimato ao Chipre até segunda-feira para que seja encontrada uma alternativa para recolher os € 7 bilhões (R$ 18,2 bilhões) necessários para garantir o resgate de € 10 bilhões (R$ 26 bilhões) oferecido no último sábado (16).

Os credores internacionais --BCE, União Europeia e FMI (Fundo Monetário Internacional)-- haviam pedido ao país que taxasse os depósitos de todos os poupadores do país. A proposta provocou corrida aos bancos, uma série de protestos e a rejeição do Parlamento, em votação na terça (19).

Agora, a instituição europeia exigiu que o governo local encontre um "plano B" para tentar resolver o impasse bancário. Dentre as alternativas, estão a nacionalização de fundos de pensão, a emissão de papéis da dívida pública ligados à receita de gás natural ou um imposto mais alto que atingiria apenas grandes investidores.

A terceira, no entanto, é a mais improvável porque provocaria o saque em massa de investidores russos, que representam 20% dos depósitos dos bancos cipriotas. Isso deterioraria ainda mais o sistema bancário do país, que foi intensamente afetado pela crise na vizinha Grécia.

Se o país não conseguir resolver o problema até segunda, a União Europeia só concederá o dinheiro se for feita a solvência dos bancos mais prejudicados pela crise. Como resposta, o Chipre anunciou que criará um fundo de investimento de solidariedade.

Segundo a imprensa local, a reserva seria formado por recursos dos fundos de pensão e com a emissão de títulos condicionados à receita de gás natural. Eles descartaram que vão fazer taxação dos depósitos menores que € 100 mil (R$ 260 mil), o que afetaria diretamente a maioria da população.

Enquanto ocorrem as negociações, os bancos e a bolsa de valores continuam fechados. Havia longas filas em algumas agências bancárias em Nicósia, uma vez que os funcionários reabasteceram os caixas, que continuam a operar enquanto as agências não abrem. A previsão é que o serviço seja retomado na terça (26).

RISCO

Nesta quinta, o presidente do grupo de ministros das Finanças do euro (Eurogrupo), Jeroen Dijsselbloem, disse que o Chipre é um "risco sistêmico". Ele disse que pretende buscar uma solução que afete menos os pequenos poupadores, mas não descartou uma contribuição direta no sistema bancário.

Fontes do Eurogrupo ouvidas pela agência de notícias Reuters dizem que estão preocupados com a confusão criada pela crise no Chipre, em especial porque o ministro das Finanças do país, Mikhalis Sarris, não participou do encontro.

Os integrantes dizem que o Parlamento do país está "emotivo demais" e que a saída da ilha mediterrânea do euro foi comentada abertamente. Sarris e sua comitiva estavam em Moscou, tentando conseguir um acordo financeiro com a Rússia.

Diante da taxação, o primeiro-ministro, Dmitri Medvedev, ameaçou a diminuir as reservas russas em euros se a União Europeia decidir cobrar imposto dos depósitos russos. Ele havia afirmado na segunda (18) que a taxa era um "confisco".

Os russos emprestaram € 2,5 bilhões (R$ 6,5 bilhões) ao Chipre em 2011. Os cipriotas pedem a renegociação da dívida e a concessão de mais € 5 bilhões (R$ 13 bilhões) de recursos, mas ainda não conseguiram acordo com Moscou.


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