Folha de S. Paulo


ONU investigará suposto uso de armas químicas na Síria

O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon disse nesta quinta-feira que a ONU vai iniciar uma investigação a pedido do governo sírio para apurar as alegações de uso de armas químicas no país.

"Eu decidi conduzir uma investigação das Nações Unidas sobre o possível uso de armas químicas na Síria", disse o secretário-geral aos repórteres. Segundo ele, a investigação vai se focar no "incidente específico que me foi trazido à atenção pelo governo sírio".

A Síria pediu na última quarta-feira que seja investigado o suposto uso de armas químicas por "grupos terroristas" perto da cidade de Aleppo, no norte do país, disse o embaixador da Síria na ONU, Bashar Ja'afari.

As mortes de 26 pessoas em um ataque perto de Aleppo na terça-feira se tornou o foco de uma guerra de informação entre o ditador Bashar Assad e a oposição, que acusam uns aos outros de fazer uso de armamentos químicos.

Segundo a oposição síria, houve um segundo ataque na terça-feira em Damasco, além do que o governo reportou em Aleppo.

Enviados britânicos e franceses disseram depois de uma reunião do Conselho de Segurança nesta quarta-feira que querem que as Nações Unidas investiguem ambos os ataques. A Rússia disse que o pedido do Ocidente nada mais era do que uma tentativa de atrasar a investigação da ONU, uma acusação rejeitada pelos europeus.

Ban deixou claro que o foco da investigação seria o ataque de Aleppo.

"É claro que estou ciente de que existem outras alegações de casos similares envolvendo o suposto uso de armas químicas", disse, completando que a ONU irá cooperar com a Organização para a Proibição de Armas Químicas e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

"A total cooperação das partes será essencial. Eu enfatizo que isso inclui acesso ilimitado", afirmou. "Eu reiterei esse ponto em minhas comunicações com as autoridades sírias."

"Existe muito trabalho por fazer e isso não vai acontecer da noite para o dia, obviamente é uma missão difícil", disse Ban. "Eu tenho a intenção de que esta investigação comece tão sedo quando seja possível na prática."

Ele disse que seu anúncio "deveria servir como lembrete inequívoco de que o uso de armas químicas é um crime contra a humanidade".

"A comunidade internacional precisa de total de que os estoques de armas químicas podem ser verificados e estão seguros", disse.

Americanos e europeus disseram que não há evidências que sugiram que houve um ataque com armas químicas. Se confirmado, seria a primeira vez que esse tipo de armamento foi usado no conflito, que já dura dois anos e estima-se que tenha matado 70 mil pessoas. Cerca de um milhão de pessoas estão refugiadas, segundo estimativas na própria ONU.

CONFLITO

Assad qualificou o conflito no país como uma batalha de vontade e resistência, em declarações publicadas nesta quinta-feira à imprensa.

"Hoje todo o país está ferido. Mas o que está acontecendo não pode nos debilitar, esta é uma batalha de vontade e resistência. Se formos fortes poderemos proteger os filhos da Síria", disse Assad durante uma visita a um centro educacional em Damasco.

"A batalha da Síria é, em primeiro lugar, uma batalha contra a ignorância, (...) e nossa mensagem a nossos inimigos é que faremos da Síria um país forte que resiste à ignorância", acrescentou.

Ele fez uma visita surpresa a um centro de formação de belas artes no centro de Damasco, no qual participou de uma cerimônia em homenagem às famílias de alunos mortos por "atos terroristas", indicou a presidência.


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