Folha de S. Paulo


EUA dizem não crer que rebeldes usaram armas químicas na Síria

O Departamento de Estado dos Estados Unidos disse nesta terça-feira não ter motivos para acreditar nas acusações do governo da Síria de que os rebeldes teriam usado armas químicas no conflito do país, mas ainda estuda as alegações da oposição de que as forças armadas sírias teriam feito uso dos armamentos.

A porta-voz do Departamento, Victoria Nuland, disse que as acusações eram parte de um esforço do governo de Bashar Assad para desacreditar a oposição.

Nuland, que descreveu o governo de Assad como progressivamente sitiado, disse que Washington está bastante preocupado que as forças de Assad poderiam usar armas não convencionais.

Mais cedo, O Ministério das Relações Exteriores da Rússia acusou os rebeldes sírios de terem feito um ataque com armas químicas em uma localidade da Província de Aleppo, no norte do país. Por outro lado, países ocidentais alertaram sobre as consequências do uso desse tipo de armas.

Segundo a agência de notícias estatal síria Sana, pelo menos 25 pessoas morreram no ataque que, segundo o meio de comunicação, foi feito com o lançamento de um míssil por terra. Os rebeldes, no entanto, acusam o regime sírio de realizar o ataque, após um bombardeio de mísseis Scud.

Em comunicado, a Chancelaria russa afirmou que o uso das armas químicas é "um avanço extremamente alarmante e perigoso". "Nós estamos seriamente preocupados com que as armas de destruição em massa tenham caído nas mãos dos rebeldes, o que piora a situação e eleva os confrontos a um novo nível".

A Rússia é aliada do regime sírio e vetou três resoluções da ONU (Organização das Nações Unidas) contra o ditador Bashar Assad, como forma de reprimir a violência. Por outro lado, países ocidentais não confirmaram as informações sobre o ataque, mas advertiram sobre as consequências do uso de armas químicas.

APOIO

Também nesta terça-feira Nuland falou que os Estados Unidos saudaram a eleição de Ghassan Hitto como primeiro-ministro interino dos territórios sírios tomados pelos rebeldes, com a esperança de que possam promover a "unidade e coesão da oposição".

Segundo ela, as autoridades "conhecem e respeitam" Hitto, um empresário do setor de alta tecnologia que viveu nos EUA durante muitos anos.

Alegando razões de privacidade, ela se recusou a confirmar a informação de que ele teria cidadania americana, se limitando a dizer que ele passou cerca de 25 anos no país.

"É uma pessoa que, preocupada com o povo sírio, abandonou uma vida muito bem-sucedida no Texas para ir trabalhar na assistência humanitária para as pessoas de seu país natal", completou Nuland.

Hitto foi eleito em reunião de líderes da coalizão oposicionista em Istambul, na Turquia. Apesar de ter conseguido a maioria dos votos, membros do grupo se retiraram da reunião antes da escolha do premiê interino, por discordar da escolha de seu nome.

ATAQUE

O regime sírio diz que o ataque foi na manhã desta terça, na vila de Khan al Assal, na Província de Aleppo, no norte do país. Segundo a agência de notícias Sana, pelo menos 25 pessoas morreram e 85 ficaram feridas na ação.

Um fotógrafo da agência de notícias Reuters, que estava na cidade de Aleppo (a 30 km do local da explosão), disse que as diversas pessoas chegaram ao hospital da universidade local sofrendo problemas respiratórios. Algumas das testemunhas disseram que sentiram cheiro de cloro no ar.

O comando do Exército Livre Sírio, principal entidade rebelde, acusou o regime de Assad de lançar o ataque, com um míssil Scud, de longa distância. As informações sobre o ataque não podem ser confirmadas de forma independente devido às restrições impostas pelo regime sírio à entrada de jornalistas internacionais.

A Organização para a Proibição de Armas Químicas disse que não recebeu nenhuma informação sobre o uso de armas químicas nos últimos dias na Síria e que não pôde confirmar de forma independente o bombardeio em Aleppo.

Mais tarde, o ministro da Informação sírio, Omram al Zoabi, acusou os opositores pelo ataque. Também disse que a Turquia e o Qatar, que apoiam os rebeldes, possuem "responsabilidade moral, legal e política" pelo uso das armas químicas.

O conflito na Síria completou dois anos na semana passada. Segundo a ONU (Organização das Nações Unidas), mais de 70 mil pessoas morreram no período e 1 milhão saíram do país em busca de refúgio, em especial em acampamentos de países vizinhos.


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